Monthly Archives: November 2008

Consolidação da banca

Hoje, sem ninguém dar por isso, outro banco português perdeu a independência. Trata-se do banco Primus, que foi comprado pelo Crédit Foncier, um dos seus accionistas.

"Se vogliamo che tutto rimanga com’è bisogna che tutto cambi."

A frase vem do filme de Visconti “Il Gattopardo”. Alain Delon é Tancredi Falconeri, membro da aristocracia em declínio na Sicilia do século XIX. O seu tio, o principe de Salinas, vê-o como o seu herdeiro.

Tancredi entusiasma-se pelas ideias de Garibaldi, mas volta à terra e junta-se ao exército italiano vitorioso de Victor Emmanuel. É no meio destas convulsões que Tancredi tenta convencer o tio, sobre a necessidade de mudanças, para que tudo continue na mesma.

Tal princípio podia aplicar-se hoje a muita coisa.

Maria Helena Vieira da Silva
Grandes Constructions

Sobre o caso BPN. Uma abordagem “Toyota”

Chegámos a Novembro e foi anunciado que o BPN seria privatizado.

Primeiro, noto que os comentadores nacionais têm uma capacidade de previsão muito restrita. Há meses que ando a dizer que o BPN não merece sobreviver a esta crise. Vários comentadores escreveram sobre o assunto depois de se saber da privatização. Mas ninguém falava sobre isso antes da privatização ser anunciada.

Até houve quem escrevesse que isto não tem nada a ver com a actual crise financeira. Tem tudo a ver – os bancos que não merecem sobreviver são privados de liquidez e estrangulados.

Nunca fui comentador de jornal, mas se o fosse, ia querer mais do que resumir as notícias da semana.

Há uma outra maneira de comentar. Seria preciso fazer perguntas, lançar debates. Quando uma crise desta dimensão leva bancos tais como o Fortis ou ING a serem nacionalizados, a pergunta obviamente é se os bancos nacionais vão sobreviver. Foi colocada. A resposta que foi dada em princípios de Outubro – nenhum banco vai precisar de ser nacionalizado. Isto é uma conclusão ridícula. Seria pois trabalho dos comentadores, enfim, comentar sobre este assunto. A grande pergunta é: quanto é que os bancos precisam em termos de aval do Estado. E por quanto tempo? É uma pergunta que está no ar – um elefante na sala.

Será que o BCP merece sobreviver? Mas de certo modo o BCP já foi nacionalizado. Pretende-se fundir o BCP e a Caixa?

De volta ao BPN, a certeza parece ser que o preço a pagar pelo modelo económico vigente desde sempre em Portugal é uma total falta de flexibilidade no mercado das fusões e aquisições. Nenhum banco quis pegar no BPN, o contribuinte é que paga. Será que algum banco vai querer pegar no BPP?

A técnica Toyota consiste simplesmente em perguntar “porquê” várias vezes até chegar à causa de um problema.

1. Porque é que o contribuinte em Portugal tem que pagar €700m para a recuperação do BPN?
Bem, a Deloitte já em 2002 ou 2003 tinha avisado que o banco estava com problemas. Mas o Banco de Portugal nada fez.

2. Porque é que o Banco de Portugal nada fez, sabendo que os auditores tinham detectado irregularidades?
Há várias explicações, mas a meu ver a verdadeira causa é que o Banco de Portugal não é verdadeiramente independente. Não convém a nenhum governo que um banco Português seja comprado, por mais falido que esteja. Por isso, o Estado dá poucos poderes de intervenção ao Banco de Portugal.

3. Porque é que o Estado dá poucos poderes de intervenção ao Banco de Portugal?
Existe em Portugal a noção que o sistema financeiro deve permanecer português. Portugal é um país pequeno e, se o mercado de fusões e aquisições funcionasse normalmente já não havia bancos portugueses. Portanto o Estado protege o BCP, BPI, BES, a Caixa e até pouco o BPN, com unhas e dentes. Mesmo em caso de fraude. Este é o verdadeiro problema: o Estado não penaliza a fraude para manter uma certa estrutura de mercado de serviços financeiros.

Conclusão

Existe uma alternativa, que consiste em deixar o mercado seguir o seu curso até certo ponto. Já não digo que se venda o sistema financeiro ao Santander. Mas pelo menos, quando os bancos são mal geridos ou geridos de forma fraudulenta, aceitar que poderiam ser comprados por qualquer comprador. Nacional ou estrangeiro. Servia tal de incentivo à boa gestão do BCP, BPI, BES e mesmo da Caixa.

Vamos passar a um plano mais elevado da organização industrial, para não voarmos baixinho. O Estado está a favorecer uma estrutura sectorial fragmentada e protegida, como modelo de funcionamento da banca nacional. Esta situação data de sempre. Nunca foi de outra maneira em Portugal. Tendemos um pouco mais para o liberalismo. Mas não muito.

Quem sobe a ministro em Portugal sabe disto. Quem sobe a governador do Banco de Portugal também. O contribuinte que pague os custos. E paga.

Normalmente nestas situações, não há uma sem duas. Fica aqui registado. O BPP já começou, apesar de não parecer aí haver fraude. Existe uma alternativa ao que vivemos de momento.