Monthly Archives: February 2009

Duas semanas de aquisições em Portugal

Durante as últimas duas semanas, pode dizer-se que houve número de vendas forçadas por parte de empresas em processos de reestruturação.

Parece-me que o tema dominante foram sem dúvida as empresas que foram obrigadas a vender activos por estarem em má situação financeira.

Vendas

  • Qimonda, viu-se obrigada a vender activos de energia solar. Há quem pense que a Qimonda é um exemplo de como a tecnologia de ponta também dá problemas ao país. Eu por acaso não penso assim, sou mais positivo. A diferença entre a Qimonda e uma fábrica de pouco valor acrescentado é que a primeira encontra sempre comprador para as suas actividades. Que venham mais Qimondas – se todas as fábricas em Portugal fossem assim os problemas do país seriam mais fáceis de resolver
  • A Galp teve que vender alguns activos em Portugal por razões de anti-trust
  • Em Espanha, a Colonial decidiu vender centros comerciais, a Sonae parece estar interessada
  • A Sacyr Vallehermoso está a vender a Somague ambiente, para pagar dívida e restabelecer o equilíbrio financeiro. A Somague Ambiente é uma empresa difícil com participações cruzadas com a Aquapor pelo que será interessante entender a identidade de possíveis compradores, bem como as suas intenções
  • A Babcock & Brown não conseguiu vender a sua posição na Ventiveste, o que confirma o ditado françês “petit minoritaire, petit con, grand minoritaire, grand con”.

Compras

Houve várias empresas a declarar intenções de comprar neste momento, tanto por parte da PT Inovação e da Mota-Engil. Esta última parece-me uma estratégia de “fuga para a frente”. Como o negócio está parado em Portugal, toca a expandir para o México.

Também a REN exprimiu interesse na sua expansão internacional, apesar de lermos que a empresa tem sido indirectamente, financiada pelo estado. No entanto a REN, pelo sector onde se insere, é contra-cíclica. Por isso se calhar agora é a altura certa para comprar.

  • A Visabeira declarou a sua intenção de comprar a cerâmica Bordalo Pinheiro, depois de já ter comprado a Vista Alegre. Resta entender a lógica, mas eles lá saberão

Conclusão: vendas forçadas, compras de empresas em dificuldades. O processo de reestruturação começou.

Pfizer, Genentech, Michael Porter

Afirmam certos analistas que o sector da saúde é defensivo em tempos de crise.
Isto porque as pessoas vão continuar a fazer despesas de saúde mesmo quando sentem dificuldades.

Não estou absolutamente certo e seguro que seja assim tão simples.

A Pfizer, por exemplo, tem meramente seguido o mercado, pelo menos durante os últimos meses (Pfizer em azul no gráfico). Já uma empresa como o a Genentech (linha encarnada) tem tido um comportamento muito mais constante. Também seja dito que está a ser comprada pela Roche – se calhar por causa da estabilidade que oferece ao investidor.

De volta à Pfizer, leio no blog de Luís Fontana que a aquisição recente da Wyeth pela Pfizer vai permitir à maior empresa farmacêutica do mundo aceder a um grande número de patentes. O sector farmacêutico vai a meu ver sentir os efeitos da crise, como qualquer outro sector. Neste caso será através da redução do financiamento disponível para programas de Investigação e Desenvolvimento. Sendo assim, haverá cada vez menos investigação durante os próximos anos.A aquisição da Wyeth pela Pfizer (para a qual houve financiamento, ainda que sob forma de um bridge loan muito caro) parece ser mais um exemplo daquilo que Michael Porter (num artigo que recomendo) indica como o abuso das fusões e aquisições nos Estados Unidos. Trata-se, aparentemente, de uma aquisição defensiva, na sequência da qual vai haver despedimentos e fecho de fábricas.

Porter chama a atenção em geral para o facto das mega-fusões terem dominado a economia americana durante os últimos anos e serem uma ameaça à concorrência.Mas Porter vai além disso e lembra que as fusões e aquisições não podem ser justificadas com base no “free market“.

Entretanto, os accionistas da Pfizer que julgam ter papel imune à crise, podem pensar de novo.

Câmara do Porto: reabilitação urbana (3)

Em Janeiro escrevi sobre a calçada portuguesa que me parece o símbolo do absurdo que se vive em Portugal no que toca à mobilidade.

Num texto de Enrique Peñalosa, antigo presidente da câmara de Bogotá, encontrei mais argumentos contra a maneira como se fazem passeios em Portugal.

Um dos critérios de eficiência dos passeios pode ser a sua capacidade para deixar passar duas cadeiras de rodas. Já repararam que em Portugal, na maior parte dos passeios, não passam duas cadeiras de rodas? Isto traduz-se num défice democrático. Uma democracia deve proteger os seus membros mais vulneráveis.

Carros sistematicamente estacionados no passeio e lugares de estacionamento traçados num local onde deviam existir passeios, são uma falta de respeito pela dignidade humana.

Um país no qual uma pessoa, para existir, tem que andar de carro, é um país com pouca cidadania. Um passeio de qualidade demonstra respeito pelos cidadãos, que formam a maioria da população.

No Porto, ninguém fala sobre a falta de regulamentação em torno do estacionamento e sobre o estado lamentável dos passeios. O exemplo de Londres é mesmo isso, um exemplo que poderia ser seguido.

No centro de Londres, não há um metro de passeio no qual o estacionamento não esteja regulamentado. Há um código em torno das linhas de três cores. Uma linha branca permite estacionar em certas condições. Os residentes dos bairros têm que pagar para estacionar em espaços bem delimitados. Aqueles que visitam, vindos de outro bairro ou do estrangeiro, têm que pagar para estacionar em certos lugares bem delimitados.

Uma linha amarela denota um local onde não se pode estacionar fora de certas horas. Uma linha encarnada dupla denota um local onde não se pode estacionar em nenhum momento.

A fiscalização está a cargo de empresas privadas, que concorrem ferozmente pelos contratos municipais.

Em Londres, o passeio é dos peões. E ninguém, francamente, se queixa.

Tal medida traria melhorias significativas, se fosse aplicada no Porto. Poderia ser o ponto de partida para a reabilitação urbana do centro da cidade.

Uma pessoa que tenha que procurar um lugar de estacionamento durante 20 minutos quando vem do supermercado, não gosta de viver no centro da cidade. Isto é básico.

Melhores passeios e estacionamento regulamentado poderiam contribuir para que Portugal fosse mais como os Países Baixos, onde quase 50% dos percursos são feitos ou a andar, ou de bicicleta (fonte American Journal of Public Health).

Câmaro do Porto: reabilitação urbana (2)

Constato que a cidade de Coimbra já teve a ideia de lançar um fundo de reabilitação urbana, como documentado aqui. Lançaram mesmo um concurso internacional e falharam.

Os motivos não são bem explicados, tendo sido invocada a crise internacional.

Parece-me ser uma explicação fraca. Não sei como estruturaram o veículo nem quais foram os verdadeiros motivos, mas provavelmente esbarraram com a questão do tamanho.

A ideia parece-me ter pernas para andar desde que estejam reunidas as condições necessárias, a saber:

  1. Uma promessa de retorno adequada para o risco
  2. Uma estrutura societária adequada. Resta saber se o regime de SCR (Sociedade de Capital Risco) português está adaptado às exigências do mercado internacional
  3. Tamanho, massa crítica para justificar o investimento
  4. Um conjunto de parceiros alinhados e comprometidos
  5. Uma forte promessa de continuidade de estratégia ou seja que o fundo possa investir nas mesmas condições mesmo que o executivo câmarário mude
  6. Garantia que a oferta excessiva de casas novas não vai comprometer a viabilidade do projecto

Lançar um concurso internacional parece-me uma solução burocrática pouco adequada, como demonstra a experiência falhada de Coimbra. Talvez a solução passe pela identificação de um investidor e sobretudo, reunir um número suficiente de projectos.

Cabe às câmaras organizar, regular e não necessáriamente lançar concursos. Porque o investidor está à procura de retorno. Aceitar este princípio pode ser o primeiro passo para que tal iniciativa possa ter algum sucesso.

Câmara do Porto: reabilitação urbana

Existem cerca de 2.000 casas devolutas no Porto

A renovação esbarra com a falta de dimensão e complexidade dos projectos. São vários os factores que levam ao fracasso de muitos projectos:
1) Casas existentes
2) Estudos de viabilidade pesados
3) Gerir população instalada no miolo da cidade
4) IGESPAR
5) Seguradoras sem capacidade de oferecer protecção

Em regra, não há capital para projectos pequenos

Os bancos não apoiam os projectos mais pequenos, sobretudo no contexto actual. Sem capital, os incentivos não chegam para dinamizar um mercado.

A solução podia passar por criar um programa de reabilitação de várias centenas de edifícios.

Seria obra de arquitectos, engenheiros (possivelmente um gabinete de arquitectura)com um estudo e business plan concreto.

A CMP poderia promover a criação de uma sociedade gestora de private equity, estruturada ou apoiada pela CMP em torno da rentabilidade do capital. Com um programa de investimento de 8 a 10 anos e com uma rácio de retorno-risco atraente.

Penso que vários investidores portugueses ou internacionais estariam interessados em participar em tal projecto. Mas seria preciso lançar a primeira pedra.

Câmara do Porto (2)


Taxas de crescimento urbano – perspectivas até 2025 (fonte: BBC)

Um gráfico vale mil palavras.

As cidades estão em estagnação ou decadência, as autoridades locais vão ter cada vez menos dinheiro para a sua manutenção e para assegurar serviços públicos básicos.

Importa saber quais são as ferramentas para melhorar as cidades. Segundo a BBC a experiência de Detroit mostra que um conjunto de ferramentas usadas em conjunto pode contribuir para melhorar os centros das cidades:
1) Incentivos fiscais
2) Melhoria das infra-estruturas

Concretamente, no Porto, assiste-se em algumas partes da cidade a uma certa estagnação ou mesmo declínio, que não é de estranhar já que se insere nesta tendência a nível mundial.

O Porto, cidade construída e antiga, não pode ser remodelada com bulldozers. Antes, a solução podia passar por cortar o trânsito em certas ruas da cidade durante certas horas do dia. Concretamente, existem uma série de ruas comerciais cujo trânsito, se fosse regulamentado, podia ser um ponto de partida para um melhor aproveitamento do espaço.

Empresas cotadas com planos de despedimento

Isto é só para aquelas empresas que são cotadas e precisam de anunciar.
REGION – EUROPE
COMPANY SECTOR NUMBERS DATE
————————————————————–
Renault Auto 6,000 Sept 09
Stora Enso Paper 3,150 Sept 10
Alitalia Airlines 3,000 Sept 15
Akzo Nobel Manufacturing 3,500 Sept 29
Daimler AG Auto 2,300 Oct 14
Volvo Auto/Equipment 5,960 Sept-Jan
ChTPZ Group Steel pipes 4,900 Nov 07
British Telecom Telecoms 10,000 Nov 13
Spansion Inc Semiconductor 4,000 NOV 18
Wolseley Plumbing/Heating 7,300 Nov 18

PSA Peugeot-Citroen
Auto 3,550 Nov 20
Rolls-Royce Engine maker 1,500-2,000 Nov 20
Sandvik Tool maker 2,400 Nov 20
Skanska Construction 3,400 Nov 25
ArcelorMittal Steel 9,000 Nov 27
Telecom Italia Telecoms 9,000 Dec 3
SKF Bearings 2,500 Dec 10
Rio Tinto Mining 14,000 Dec 10
Stanley Works Tools 2,000 Dec 11
Electrolux Home Appliance 3,000 Dec 15
Laird Plc Electronics 5,000 Dec 16
Elcoteq Electronics 5,000 Jan 15
Metro AG Retail 15,000 Jan 20
Philips Electronics
Electronics 6,000 Jan 26
Corus Steel 3,500 Jan 26
STMicroelectronics Chip maker 4,500 Jan 27
SAP Software 3,300 Jan 28
GKN Plc Aerospace 2,800 Oct/Jan

REGION – NORTH AMERICA
COMPANY SECTOR NUMBERS DATE
————————————————————-
Hewlett-Packard IT 24,600 Sept 15
Federal Mogul Auto, Engg. 4,000 Sept 17
Micron Technology IT 2,800 Oct 09
Merck & Co Pharma 6,800 Oct 22
XEROX CORP Technology 3,000 Oct 23
Chrysler LLC Auto 6,000 Oct 24
Whirlpool Corp Consumer 5,000 Oct 28
Gannett Co Inc Media 3,200 Oct 28
YRC Worldwide Transport 3,750 Oct 29
Motorola Mobile phones 7,000 Oct/Jan
Ford Motor Co Auto 2,260 Nov 07
DHL Express BV Transport 9,500 Nov 10
Sun Microsystems IT Up to 6,000 Nov 14
Pepsi Bottling Group Soft drink 3,150 Nov 18
AT&T Inc Telecom 12,000 Dec 4
DuPont

Chemical 2,500 Dec 4
Avis Budget Group Car Rental 2,200 Dec 4
Dow Chemical Co Chemical 5,000 Dec 8
Wyndham Worldwide Hotel 4,000 Dec 8
3M Co Manufacturer 2,300 Dec 8
Office Depot Inc Auto 3,000 Dec 11
Ryder System Inc Truck Leasing 3,100 Dec 17
Textron Inc Airlines 2,200 Dec 22
Alcoa Inc Aluminum prod 15,000 Jan 6
EMC Corp IT 2,400 Jan 7
Dell IT 1,900-3000 Jan 8
Boeing Co Airlines 4,500 Jan 9
Cessna Aircraft Airlines 2,000 Jan 12
MeadWestvaco Packaging 2,000 Jan 15
Hertz Global Hldgs Car rental 4,000 Jan 16
Eaton Corp Manufacturer 5,200 Jan 20
Intel Corp IT 6,000 Jan 21
Microsoft Corp IT 5,000 Jan 22
Texas Instruments IT 3,400 Jan 26
Sprint Nextel Corp Telecom 8,000 Jan 26
Home Depot Inc Home Improvement 7,000 Jan 26
General Motors Corp Auto 2,000 Jan 26
Caterpillar Inc Earth-Moving 19,500 Jan 26
Pfizer Inc Pharma 19,500 Jan 26
Molex Inc Electronics 9,300 Dec/Jan
Corning Inc Manufacturer 4,900 Jan 27

REGION – ASIA-PACIFIC
————————————————————
COMPANY SECTOR NUMBERS DATE
Nissan Auto 2,500 Oct 13
Sony Corp Electronics 16,000 Dec 9
TDK Corp Electronics 8,000 Jan 8
Lenovo Group IT 2,500 Jan 8
BHP Billiton Ltd/Plc Mining 6,000 Jan 21

REGION – AFRICA
————————————————————
COMPANY SECTOR NUMBERS DATE
Lonmin Mining 5,500 Nov/Dec
————————————————————
TOTAL 434,820

DLY Life (De-Lever Yourself)

“Me llamo Paco y tengo una hipoteca a 40 años

Como o Paco, milhares de portugueses têm hipotecas e vão perder o emprego em 2009. Se calhar devíamos criar grupos semelhantes aos alcoólicos anónimos, para os viciados em dívida.

Câmara do Porto

A polémica em torno das eleições para a Câmara do Porto parece centrar-se em torno da regionalização. Será este o único critério de diferenciação entre Elisa Ferreira e Rui Rio? Há quem pense assim.

Espero que o debate político se centre em assuntos mais importantes, tais como as questões de fundo do urbanismo e planeamento que a meu ver, ficaram por resolver ao longo dos últimos anos. A ver vamos.