Monthly Archives: March 2009

Amgen (2)

Há alguns dias perguntei – como é que uma empresa como a Amgen consegue manter a estabilidade no preço da sua acção apesar da enorme crise financeira que estamos a viver.

A tabela que se segue responde em grande parte à pergunta.

A Amgen faz parte de um grupo de empresas tais como a Genentech, Roche e Abbott, que têm muitas patentes e portanto mercados defendidos durante os próximos anos.

(fonte: Moody’s)

A tabela da direita indica ainda que a Amgen tem um pipeline de qualidade acima da média.

Se repararem na parte de baixo da tabela, podem notar que a Pfizer é a mais exposta. Não tem outra solução além de comprar concorrentes. Uma máquina de aquisições.

Chipre

Li o texto sobre Chipre de José Pedro Teixeira Fernandes. Trata-se de um livro interessante mas não concordo inteiramente com o autor. De facto o conflito que separou Chipre deixou sequelas, como pude verificar em conversas com pessoas que conheço na ilha.


A União Europeia não tem que promover o dialogo com a Turquia. Pode simplesmente deixar andar, o status quo nesta matéria tem algumas vantagens.

Mas o mais perturbante, sem querer ser economicista, tem a ver com o grande sucesso da Turquia do ponto de vista económico. Assim, poderemos ter daqui a 5 ou 10 anos uma parte turca de Chipre muito mais rica e uma parte Grega em declínio, fruto da adesão a uma União Europeia onde o crescimento económico, sobretudo naquela região, poderá ser muito limitado daqui para a frente.

Teixeira Fernandes não se cansa de lembrar que o fundamentalismo islâmico pode levar a abusos, como neste post. Mas a Turquia esta a crescer enquanto que a Grécia na melhor das hipóteses vai estagnar.

Faz os deveres e depois podes ver TV

Uma das dificuldades da gestão de projecto tem a ver com a necessidade de distribuir trabalho pouco interessante. Qualquer projecto tem um lado administrativo, pouco interessante e que desmotiva as pessoas.

Este problema torna-se especialmente importante nos dias que correm, já que actualmente as pessoas encaram o trabalho como uma coisa que deveria ser interessante, sobretudo no sector dos serviços. Ora o trabalho antes de mais, pode ser chato e repetitivo, em qualquer sector. Por isso as pessoas aceitam trabalhar somente em troca de pagamento.
Poder-se-ia pensar que muita gente encara esse aspecto menos agradável do trabalho de forma adulta, como um mal necessário. Na realidade, mesmo pessoas serias e ambiciosas preferem deixar de lado os aspectos mais aborrecidos de um projecto sob pretexto de estarem “muito ocupadas” e de “não terem tempo”. Trata-se claramente de uma atitude infantil.
Proponho um remédio infantil. Comunico todas as tarefas desagradáveis antes do meio dia. Chego a ser insistente, sem ser desagradável. E insisto que, depois de acabar uma tarefa desagradável a pessoa poderá passar a uma tarefa interessante.
Fico sempre surpreendido com a eficácia deste método. Resulta muitíssimo bem.
Um autor interessante que escreveu sobre este assunto foi M. Scott Peck, no seu livro “The road less travelled“. Fala de muita coisa mas sobretudo de disciplina e lembra que quando éramos pequenos nos diziam aquela frase “faz os deveres e depois podes ver TV”. Pois bem, há um principio de prazer segundo o qual o ser humano aceita passar por momentos menos agradáveis se houver luz no fim do túnel. Visto assim faz sentido.
As minhas manhãs passo-as agora a “cobrar” trabalho em atraso e os meus finais de tarde a ter conversas interessantes.
Quem estiver interessado num sumario do livro de M. Scott Peck poderá encontra-lo aqui.

Banca comercial e banca de investimento

Um banco comercial consiste em milhares de pessoas que, das 8.30 da manhã às 6.00 da tarde, fazem um grande número de pequenas operações standard.

Um banco de investimento consiste em milhares de pessoas que, em horários mais alargados, fazem um pequeno número de grandes operações que por definição não são standard.

Focando agora na banca de investimento. Supostamente, as pessoas que trabalham nesse sector têm competências técnicas para fazer operações mais complexas, como aliás vem referido num comentário a este post.

Num banco de investimento, há vários tipos de trabalho possíveis. Mas em regra geral, há assessoria, operações de equity e operações de renda fixa, sendo que estas últimas envolvem muitas vezes (mas nem sempre) financiamento, “balanço” ou seja, utilizar o balanço do banco para conceder crédito. Teóricamente os bancos iriam passar o risco para investidores externos mas na prática tal não aconteceu.

CLOs, CDOs, ABS, são tudo nomes de produtos de renda fixa ou de dívida. Foi aí que a crise começou.

Em geral assistiu-se nos bancos de investimento durante os últimos anos uma grande falta de (perdoem a repetição) investimento em equity e assessoria. Estou a referir-me às grandes operações de saída à bolsa ou aumentos de capital.

Claro que preparar uma fusão ou fazer uma emissão de acções acarreta custos. Campanhas de marketing para que as equipas responsáveis conheçam as empresas. Investimento em fundo de maneio, porque por vezes as operações não se realizam durante anos.

Para simplificar, foi dada prioridade a tudo o que fosse renda fixa e produtos de crédito ou seja, tudo o que directa ou indirectamente tem a ver com os bancos “emprestarem dinheiro” de uma forma ou doutra. Ninguém fala sobre a Internet mas a meu ver a Internet teve um papel porque um empréstimo hipotecário contraído nos Estados Unidos pode agora ser “packaged” em Londres por alguém que nunca esteve nos Estados Unidos e não tem a mínima ideia sobre o que está a vender. Enfim, já escrevi um post sobre isso há alguns meses. Adiante, o facto é que se insistiu muito nas operações de renda fixa, nos últimos anos.

O resultado está à vista. Que absurdo.

Por outro lado, encontrar bodes expiatórios para a crise é fácil e não muito útil, a meu ver. Será que os banco deviam ter centrado as suas actividades sobre as operações de aumento de capital e emissão de acções, um produto com pouco risco?

O produto “equity” funciona bem em contextos de grande crescimento económico ou em países em fase de forte crescimento, nos quais é necessário proceder a aumentos de capital para financiar grandes projectos. Por exemplo na China, na Índia, no Brasil, as saídas à bolsa de empresas bem como as aquisições têm representado um negócio em franca expansão.

A realidade é que os Estados Unidos e sobretudo a Europa têm crescido pouco do ponto de vista económico, durante a última década. Nesta conjuntura o sector financeiro não aposta nas actividades ligadas ao mercado de equity ou de assessoria, porque não vê razões para tal.

A título de exemplo, já repararam que em Portugal não tem havido práticamente saídas à bolsa durante os últimos anos?

Ainda assim parece-me que, na Europa, as poucas empresas de grande dimensão que apresentaram planos de negócio credíveis e quiseram fazer aumentos de capital o fizeram sem grandes constrangimentos.

Foi num contexto de fraco crescimento económico que os bancos escolheram uma estratégia de “fuga para a frente” e apostaram forte nos produtos de renda fixa e na expansão do crédito, com os resultados que agora estão à vista.

O CV Europass

A União Europeia até desenvolveu um formato tipo para CVs (ver aqui).

Mas porque é que eles têm que se meter nisto? Não têm mais nada para fazer? Que loucura.

O modelo por sinal é mau, do ponto de vista do formato. Até inclui uma foto, o que não pode ser critério. Devia ser até ilegal.

Amgen

Caros amigos, deixem-me começar por indicar que os accionistas da Amgem nunca se vão esquecer que a empresa, entre Março de 2008 e Março de 2009, conseguiu manter uma relativa estabilidade no preço da acção, quando o mercado financeiro acumulou perdas consideráveis e outras empresas como a Pfizer nada mais fizeram do que seguir o mercado. O gráfico abaixo é bem explicito (Amgen linha azul, Nasdaq a amarelo e Pfizer encarnado).

A pergunta é portanto: como é que eles fazem para obter estes resultados?

Neste momento ouvem-se críticas às empresas de todos os sectores, e o sector farmacêutico não escapa. “Big pharma” é um chavão. A verdade é que vista de fora, a Amgen parece uma daquelas típicas empresas americanas da economia do conhecimento. Da California, empresa um grande número de cientistas para desenvolverem e testarem produtos farmacêuticos. Foi criada em 1980.