Um banco comercial consiste em milhares de pessoas que, das 8.30 da manhã às 6.00 da tarde, fazem um grande número de pequenas operações standard.
Um banco de investimento consiste em milhares de pessoas que, em horários mais alargados, fazem um pequeno número de grandes operações que por definição não são standard.
Focando agora na banca de investimento. Supostamente, as pessoas que trabalham nesse sector têm competências técnicas para fazer operações mais complexas, como aliás vem referido num comentário a este post.
Num banco de investimento, há vários tipos de trabalho possíveis. Mas em regra geral, há assessoria, operações de equity e operações de renda fixa, sendo que estas últimas envolvem muitas vezes (mas nem sempre) financiamento, “balanço” ou seja, utilizar o balanço do banco para conceder crédito. Teóricamente os bancos iriam passar o risco para investidores externos mas na prática tal não aconteceu.
CLOs, CDOs, ABS, são tudo nomes de produtos de renda fixa ou de dívida. Foi aí que a crise começou.
Em geral assistiu-se nos bancos de investimento durante os últimos anos uma grande falta de (perdoem a repetição) investimento em equity e assessoria. Estou a referir-me às grandes operações de saída à bolsa ou aumentos de capital.
Claro que preparar uma fusão ou fazer uma emissão de acções acarreta custos. Campanhas de marketing para que as equipas responsáveis conheçam as empresas. Investimento em fundo de maneio, porque por vezes as operações não se realizam durante anos.
Para simplificar, foi dada prioridade a tudo o que fosse renda fixa e produtos de crédito ou seja, tudo o que directa ou indirectamente tem a ver com os bancos “emprestarem dinheiro” de uma forma ou doutra. Ninguém fala sobre a Internet mas a meu ver a Internet teve um papel porque um empréstimo hipotecário contraído nos Estados Unidos pode agora ser “packaged” em Londres por alguém que nunca esteve nos Estados Unidos e não tem a mínima ideia sobre o que está a vender. Enfim, já escrevi um post sobre isso há alguns meses. Adiante, o facto é que se insistiu muito nas operações de renda fixa, nos últimos anos.
O resultado está à vista. Que absurdo.
Por outro lado, encontrar bodes expiatórios para a crise é fácil e não muito útil, a meu ver. Será que os banco deviam ter centrado as suas actividades sobre as operações de aumento de capital e emissão de acções, um produto com pouco risco?
O produto “equity” funciona bem em contextos de grande crescimento económico ou em países em fase de forte crescimento, nos quais é necessário proceder a aumentos de capital para financiar grandes projectos. Por exemplo na China, na Índia, no Brasil, as saídas à bolsa de empresas bem como as aquisições têm representado um negócio em franca expansão.
A realidade é que os Estados Unidos e sobretudo a Europa têm crescido pouco do ponto de vista económico, durante a última década. Nesta conjuntura o sector financeiro não aposta nas actividades ligadas ao mercado de equity ou de assessoria, porque não vê razões para tal.
A título de exemplo, já repararam que em Portugal não tem havido práticamente saídas à bolsa durante os últimos anos?
Ainda assim parece-me que, na Europa, as poucas empresas de grande dimensão que apresentaram planos de negócio credíveis e quiseram fazer aumentos de capital o fizeram sem grandes constrangimentos.
Foi num contexto de fraco crescimento económico que os bancos escolheram uma estratégia de “fuga para a frente” e apostaram forte nos produtos de renda fixa e na expansão do crédito, com os resultados que agora estão à vista.