Monthly Archives: June 2009

PT-TVI

A proposta da aquisição da TVI pela PT é um símbolo dos nossos tempos.

O facto do governo ter arriscado apoiar a operação para (segundo se diz) influenciar a escolha editorial da TVI, é um resultado de um estado de coisas actual, no qual o poder está ligado às fontes de informação. A TVI representa uma das principais fontes de informação oficial em Portugal e o Governo terá, segundo se diz, querido influenciar o conteúdo dos seus noticiários. O poder e a importância do Governo passa pela sua capacidade em influenciar aquilo que se diz nos tele-jornais. As imagens competem contra as imagens. As pessoas são cada vez mais criaturas visuais e respondem a imagens a um nível mais visceral do que a palavras.

Porque é que a PT se interessou por uma empresa de media? Não existem sinergias evidentes entre a PT e um negócio de televisão. O talento fundamental da PT é manter uma situação de oligopólio em Portugal para defender as suas margens. Outra competência marginal da empresa é a capacidade de operar redes de telecomunicações. Já a TVI tem como principal factor de competitividade a capacidade de gerar receitas publicitarias. São competências muito diferentes e que não trazem sinergias significativas. Actualmente os canais de televisão têm muito pouca produção de conteúdos, quase exclusivamente telejornais. Os outros conteúdos são comprados no estrangeiro ou produzidos por independentes.

As empresas de media tiveram um primeiro movimento de integração vertical nos Estados Unidos na década de 80. O ponto mais alto desse movimento foi a criação da Time Warner, uma fusão que levou à formação de um gigante com interesses no cabo, no cinema e na produção de conteúdo para a televisão, na edição de livros e revistas e finalmente na música.

Mais tarde a empresa junto a Internet a um leque de actividades diversificadas, para criar a AOL Time Warner.

A experiência não foi um grande sucesso, como mostra o gráfico abaixo, que compara a cotação da empresa com o índice S&P 500 (AOL Time Warner em azul)

Não se entende como é que a PT pensava contrariar uma tendência de mercado ou seja o falhanço do modelo de integração vertical nos media.

A única razão da venda é que a Prisa está desesperadamente a vender activos, mais um símbolo dos nossos tempos. A Prisa está endividada e com os mercados de capital no estado em que estão, não se consegue financiar. Por isso não tem outra opção senão vender activos, neste caso a TVI. De facto, as empresas de media têm sido muito castigadas pela crise e muitas já faliram, tanto na Europa como na América do Norte.

Finalmente, noto que, nos inúmeros artigos que foram escritos sobre o negócio, não aparece uma única vez uma referência a um múltiplo de EBITDA, para justificar se a PT estava a pensar comprar por um múltiplo baixo. Calculo que seja a principal motivação ou seja a capacidade de adquirir uma empresa interessante por um preço muito baixo.

Agora que o apoio do Governo desapareceu, vai provavelmente surgir um comprador do mesmo sector que possa derivar sinergias da aquisição. O que prova que em Portugal um dos poucos sectores onde ainda se podem fazer aquisições sem a intervenção do Governo continuam a ser os media.

Mobilidade do factor trabalho

Eis a reflexão que proponho, tudo isto a propósito da banca de investimento estar outra vez em alta, tal como as bolsas nos Estados Unidos

  1. Por um lado, é quase certo que os Estados Unidos vão sair da recessão antes da Europa. Ora, os Estados Unidos têm uma enorme mobilidade do factor trabalho. Nos EUA, só 60% dos trabalhadores vive no estado onde nasceu e todos os anos 2,5% da população activa muda de estado, contra 0,1% na União Europeia. Claro que nos EUA há quem conteste que esta mobilidade tem custos e limites, já que mudar de estado significa uma perda de bem estar
  2. Por outro lado, em Portugal é muitas vezes argumentado que duas razões fundamentais pelas quais o país não cresce é que a lei das rendas é pouco flexível e que as leis laborais dificultam os despedimentos. Os jovens não têm outra solução senão comprar casa o que fixa as populações e limita a mobilidade do factor trabalho. De certa maneira, esta rigidez significa que Portugal vai sair da crise muito depois dos Estados Unidos (se é que alguma vez vai de facto sair). Este post do Valor da Ideias dá mais pormenor

Qual dos dois modelos é melhor? Não tenho resposta, mas vou pensar nisso…

Desde já, mesmo que alguém quisesse mudar algo em Portugal, não contem com o PS no governo para liberalizar a economia.

Platão e os blogues (2)

Quanto ao post que escrevi há alguns dias, fizeram-me vários comentários que passo a relatar.

Em primeiro lugar, gostava de deixar claro que foi Jill Walker Rettberg que estabeleceu a ligação entre Platão e os blogues, no seu livro “Blogging”.

Para além disso, dizer que a era de Platão marcou a transição da tradição oral para a tradição escrita não é totalmente correcto. Apesar de não se saber ao certo quando foi escrita a Odisseia, terá sido algum tempo após da guerra de Tróia, que terá acontecido em 1188 A.C. Por outras palavras, os primeiros textos escritos na Grécia antiga terão ocorrido mais de 500 anos antes dos escritos de Platão.

O diálogo no qual se aborda as desvantagens da escrita não é o Phaedrus mas sim o Cratylus.

Resta que os blogues vêm reduzir uma das grandes desvantagens da escrita a saber que o texto não permite o diálogo entre o autor e o leitor. Mas as trocas de opinião e comentários a textos já vêm de longa data. Os filósofos ou comentadores sempre trocaram correspondência.

Os blogues vêm assim permitir que a troca de comentários se faça mais rapidamente e democratizar aquilo que estava reservado a uma elite. Trata-se portanto de uma técnica que torna as trocas mais rápidas, mas não se trata propriamente de um fenómeno novo.

SRU Porto Vivo (2)

As declarações de Arlindo Cunha na RTP1 no programa “prós e contras” de hoje chama a atenção para a total impunidade da SRU Porto Vivo. Quando lhe perguntaram para quantificar os resultados de 4 anos de trabalho, a resposta foi ridícula. Já foram aprovados planos estratégicos para dezenas de bairros e já começaram obras em vários. Não foi dada nenhuma resposta quanto ao número de projectos concluídos, quanto ao número de casas reabilitadas, de imóveis vendidos ou alugados.

Isto é realmente a resposta a um post que publiquei este fim-de-semana – a SRU Porto Vivo é ineficiente. Claro que o Estado central tem culpa, porque não consegue definir um regime jurídico que permita reabilitar os centros das cidades.
Há várias desculpas, a lei das rendas, o regime jurídico, a enorme complexidade da reabilitação urbana.
Há sobretudo uma grande falta de responsabilidade.
O que está aqui em causa não é apenas os edifícios, mas um estilo de vida e a própria democracia. O que realmente se passou em cidades como o Porto é que houve uma divisão de riqueza. As pessoas com mais dinheiro saíram do centro da cidade. Os cidadãos mais pobres ficaram no centro da cidade e não conseguem eleger políticos sérios e que defendam os seus interesses.
Os municípios hoje em dia não fazem muito sentido, porque as cidades estão cada vez maiores, mais integradas e os bairros dependem uns dos outros. Os bairros dos centros das cidades que são mais pobres dependem dos habitantes dos bairros da periferia, da classe média, como fonte de impostos, que deviam ser aplicados em serviços municipais para elevar o centro das cidades.
O cidade do Porto tem 246 mil habitantes enquanto que a sua área metropolitana tem um milhão. Uma fusão entre o Porto, Gaia e Matosinhos poderia trazer sinergias substanciais, reduzir a despesa com funcionários públicos e permitir a utilização das receitas tributárias de forma integrada.
Vários comentadores defendem a fusão de municípios entre eles Tiago Azevedo Fernandes neste artigo de opinião. No Canadá houve fusões entre mais de 1.000 municípios na última década. Também foi assim na África do Sul, onde se fundiram vários municípios para reduzir o apartheid. Mas tais medidas são muitas vezes mal acolhidas pelos políticos eleitos pelos habitantes dos bairros pobres dos centros.
Cabe ao Estado central e todos os interessados intervir para reinventar a cidade. Não se trata de transformar os bairros para que sejam todos iguais, nem unicamente promover a eficiência nos transportes, trata-se sim de permitir que os habitantes dos centros das cidades sejam felizes. Não me parece que seja uma questão de esquerda ou de direita. Nem me parece que seja utopia.

Reacção à audição de Vítor Constâncio no parlamento (2)

Foi com alguma satisfação que verifiquei que Constâncio confirmou hoje, dizendo-o no parlamento, algo que tinha escrito aqui na semana passada: houve ingenuidade da parte do Banco de Portugal no caso BPN.

Para mim isto vem também confirmar que se devia passar a uma supervisão baseada em princípios éticos e não em regras.
Para além disso, existe uma tendência actualmente para a convergência da regulação do sector financeiro ou de outros sectores. Existem vários exemplos de organismos internacionais que visam aumentar a colaboração entre reguladores e entidades de supervisão, entre os quais a International Organisation of Securities Commissions (IOSCO), ou o International Forum of Independent Audit Regulators, que promove a coordenação das actividades de regulamentação dos auditores.
Tudo isto deixa uma pergunta em aberto: será que o Banco Central Europeu não deve fomentar a troca de boas práticas entre os Bancos Centrais dos membros da UE? Para que serve o BCE nestas alturas? O sector financeiro está em plena evolução e vai ter que continuar a adaptar-se às circunstâncias excepcionais nas quais estamos a viver. O Banco de Portugal parece cada vez mais uma instituição que se rege segundo regras obsoletas e dá respostas inadequadas quando realmente devia antecipar e actuar de forma estratégica.

Cimpor / Semapa

As declarações do presidente da Semapa, este fim de semana no Expresso, são o último capítulo de uma saga que já dura há quase 10 anos. Já em 2000 a Semapa tinha exprimido interesse na aquisição da Cimpor, o que levou indirectamente à venda da Cimpor à Teixeira Duarte.

Agora que a estrutura accionista da Cimpor está de novo instável, a Semapa volta a exprimir interesse na aquisição de alguns dos seus activos.
Se a Semapa tiver sucesso, será mau para o país. A Cimpor e a Semapa são um duopólio geográfico já que detêm todas as fábricas de cimento em Portugal bem como em um perímetro de 200km em torno do país. O cimento não viaja por terra mais de 200kms por razões de preço. Por isso Portugal está efectivamente isolado do resto da Europa no que toca à oferta de cimento.
Há 10 anos o mercado da construção em Portugal estava em pleno boom e a Cimpor era uma das estrelas da bolsa. Hoje, o mercado da construção está parado. A tentação de fundir as cimenteiras cresce.
Mais uma vez voltamos à discussão em torno de manter a Cimpor entre mãos nacionais. O cimento é um conhecido cartel e várias empresas do sector já pagaram multas por quebrar as regras da concorrência na Europa.
A meu ver, se houver uma tentativa de aproximação entre a Semapa e a Cimpor, a Autoridade da Concorrência deverá opor-se. Qualquer solução será um mal menor.
Entretanto a acção tem tido um comportamento bem melhor do que o PSI20 o que sugere que haverá um elemento de especulação em torno de uma possível aquisição.
Só não entendo esta obstinação em manter a Cimpor na bolsa. Na Alemanha, 95% das empresas são familiares. São responsáveis por 40% do PIB e empregam cerca de 60% da população activa. As percentagens são semelhantes na Suíça e em outros países industrializados. Se o objectivo é manter a Cimpor portuguesa, então a solução poderia simplesmente passar por vender a totalidade do capital a um accionista familiar.

Sociedade de Reabilitação Urbana Porto Vivo

A SRU Porto Vivo tem como missão “conduzir o processo de reabilitação urbana da Baixa Portuense”.

Reparem que já a missão é ridícula. A SRU não tem como missão chegar a um objectivo. Não pretende levantar os olhos e olhar para o exterior em direcção aos objectivos e perguntar “como posso contribuir para reabilitar a Baixa Portuense”.

Em vez disso, para justificar a sua presença, a SRU Porto Vivo responde que “conduz um processo”. Mas que processo? Dirige quem?

A atenção é posta assim nas competências administrativas da SRU Porto Vivo, na sua capacidade (ou não) para organizar processos, coordenar neste caso gabinetes de arquitectos, engenheiros, bancos, proprietários e indivíduos que querem reabilitar a Baixa Portuense. Sabem é que, se não existisse o Estado, os desgraçados não conseguiam coordenar-se.

Para além disso, não consegui descobrir no web site da SRU Porto Vivo um relatório anual, um único documento que explicasse:
1) Quais são os objectivos
2) Foram alcançados?
3) Como planeiam organizar-se de futuro?

Por isso para mim, a SRU Porto Vivo é um exemplo de uma organização que não vive para dar uma contribuição positiva à cidade do Porto.

Aliás, basta ler um ou dois blogs para entender que as pessoas não estão realmente convencidas sobre o seu papel. Neste post, o autor indigna-se precisamente porque lhe parece que a SRU Porto Vivo só existe para fazer planos e delinear estratégias. Como qualquer organização que não procura atingir objectivos e contribuir para algo, a SRU Porto Vivo só poderá ser apelidada de ineficiente.

"Told you so"

Quem tiver algumas dúvidas que John Kay conseguiu prever o “credit crunch” poderá consultar este artigo de Março de 2007.

Vale a pena ler os artigos dele.

Reacção à audição de Vítor Constâncio no parlamento

Vítor Constâncio defendeu-se bem no parlamento. Confirmou-se que tem perfeito controle sobre o seu discurso e que é capaz de argumentar racionalmente.

A comissão de inquérito do Parlamento também fez o seu trabalho como devia ser. Veio provar que serve para alguma coisa e que o Parlamento afinal é útil. Para isto é que servem. Não compro os argumentos que se tratou de um aproveitamento político da situação do BPN. Afinal, o caso BPN é político desde o momento em que o banco foi nacionalizado e na realidade mesmo antes de o ser.

Quanto ao conteúdo, penso que Constâncio pecou pela sua ingenuidade. O meio financeiro é tradicionalmente adepto em evitar tudo o que seja regulamentos. É considerado sinal de esperteza um quadro ou um administrador conseguir fazer lucro ao contornar uma regra. São coisas que se passam tanto em Portugal como no estrangeiro.

Outros países conseguiram dar a volta para fazer a supervisão com base em princípios éticos e não em regras. Tal é o caso no Reino Unido e em Portugal devíamos pensar se não devíamos seguir o mesmo caminho.

As vantagens de seguir uma supervisão baseada na ética e não em regras é que o regulador deve pedir aos bancos para seguirem certos princípios. E portanto pode sancionar aqueles que não actuam de acordo com princípios de boa gestão bancária e bom comportamento no mercado de capitais.

As vantagens deste tipo de supervisão ficaram bem patentes em um caso com o Citigroup há dois anos, caso que aconteceu no Reino Unido. O Citigroup fez um trade em obrigações altamente rentável que, apesar de não ir contra nenhuma regra, tinha ido claramente contra o princípio que dita que não se deve manipular o mercado. O Citigroup foi visto do lado da banca, pelos outros participantes no mercado, como tendo sido esperto ao fazer um trade muito bom que não quebrava nenhuma regra formal. Mas levou uma multa e a sua reputação sofreu. Afinal existem limites para a arbitragem.

Casa roubada trancas à porta, penso que o próprio banco de Portugal reconhece que necessita de mais poderes. A culpa não é só do Banco de Portugal, nisso concordo com o post de Helena Garrido.

Mas não creio que o Banco de Portugal esteja a pedir aquilo que devia. Cada vez mais existe uma tendência para uma uniformização da regulação a nível internacional. Por isso a meu ver o Banco de Portugal devia mudar as regras de funcionamento do sector bancário e do mercado de capitais no sentido de obrigar os participantes a seguirem certos princípios éticos. Também devia ter poder para sancionar e multar, fazer o que fosse preciso, aqueles participantes que vão contra os princípios da boa gestão bancária.

O que é perverso no caso BPN é que o Oliveira e Costa tinha trabalhado no BdP e sabia perfeitamente a maneira como o Banco ia reagir. Mais uma razão para fazer com que a regulamentação assente em princípios e não em regras, já que as regras podem muito bem ser contornadas por quem souber fazê-lo.

Para além disso, penso que o banco de Portugal também ignorou que tem muitíssimas armas à sua disposição para impor sanções:~

  • Censura pública, cujo objectivo é mudar o comportamento da instituição que foi alvo de censura
  • Multas, que deviam ser ilimitadas, tal como acontece no Reino Unido
  • Cancelamento da autorização de operar uma actividade regulada. Isto tem a ver com outra falha no sistema. No Reino Unido cada pessoa que trabalha com clientes de um banco é uma “authorised person” e a sua licença pode ser retirada pela FSA. Em Portugal vale tudo. No Reino Unido pode ser retirada a licença ou a actividade do banco ou de uma pessoa que trabalhe nele, se a sua actuação for contrária aos interesse dos próprios clientes do banco
  • Proibição de exercer uma actividade: no Reino Unido, uma pessoa pode ser proibida de exercer uma actividade se for provado que a pessoa não está habilitada a exercer as suas funções. No caso do BPN, havia ali pessoas que claramente estavam a exercer a sua actividade contra as regras prudenciais e de boa gestão e contra os princípios mais básicos da honestidade que deve prevalecer nos negócios em qualquer sector de actividade
  • Ordens de restituição: quando o regulador determina que os lucros de uma transacção foram obtidos de forma ilícita pode pedir a sua restituição aos lesados
  • Processos de ordem criminal
  • Suspensão da actividade de mercado
  • Nacionalização

Resulta da lista que acabamos de expor que existem inúmeras possibilidades de exercer autoridade antes de recorrer à nacionalização e esta é a maior crítica ao Banco de Portugal. Como já aqui escrevi, uma nacionalização é um falhanço monumental da parte do regulador, porque significa que tudo o resto falhou. Ora o que mais surpreende é que havia muita coisa a fazer antes de nacionalizar. A solução foi tudo ou nada o que não faz sentido nenhum.

Com este caso confirma-se que quem tem grandes operações a efectuar no mercado de capitais vai a Londres (ou Nova Iorque ou Tóquio dependendo da geografia). Ou seja, os mercados tais como Lisboa ou outras praças europeias são mercados locais, com uma regulamentação amadora e que não servem para as grandes operações. Os bancos portugueses servem para as operações mais pequenas mas quando se quer tratar com bancos mais bem organizados, o melhor mesmo é apanhar o avião e ir falar com os bancos que são regulados pela FSA ou a SEC, que tem poderes e meios para fazer funcionar um mercado de capitais de forma decente.

Platão e os blogues

Olhar para trás pode ser útil para entender melhor o fenómeno dos blogues. Particularmente parece interessante a transição da tradição oral para a tradição escrita na Grécia antiga. Os escritos de Platão lidam com a transição da oralidade para a escrita como forma nobre de comunicação. De facto, alguns livros de filosofia da época são transcrições de diálogos, acabam por ser anotações de conversas entre o filósofo e o seu mestre ou os seus alunos.

O que é curioso é que existe um diálogo, Phaedrus, que é sobre a escrita em si. Nele, Platão indica que a escrita e a comunicação através de livros tem várias desvantagens. A primeira é que as pessoas deixam de ter que aprender as coisas de cor. A segunda é que um livro não permite o diálogo, não responde a perguntas.

Isto é interessante porque, com o advento da Internet, isto já não é válido. De facto, os blogues podem ser comentados e se alguém escrever algo com que outra pessoa não concorda, esta poderá exprimir a sua discórdia. Os posts podem ser modificados com mais ou menos frequência. Para além disso, os blogues estão muitas vezes ligados entre si, pelo que um autor pode comentar um texto de outro e fazer uma referência.

Neste sentido, os blogues estão muito mais perto da tradição oral do que do silêncio dos livros, algo que Platão teria apreciado.