Um post do SIMplex menciona a Critical Software como exemplo de uma PME de sucesso e gostaria de partilhar algumas reflexões sobre esse assunto.
Sem querer desfazer na Critical Software, não entendo esta fixação dos apoiantes do PS. Porquê focar-se tanto nesta empresa, que é apresentada vezes sem conta como um caso de sucesso?
Segundo as informações de que disponho, que são limitadas, a Critical Software facturava EUR8,6 milhões em 2006. Não tenho dados financeiros depois disso, em parte porque em Portugal como já disse
aqui, a informação financeira é muito fraca.
De novo segundo os dados disponíveis, a Critical Sofware era uma empresa que em 2006 apresentava um resultado operacional negativo.
Acredito que o software seja bom, não é isso que está em causa. Trata-se de uma empresa que emprega gente muito competente, sem dúvida. Mas será que está em grande crescimento? Tem potencial para se tornar em uma grande empresa internacional?
Talvez resida aqui a diferença entre aquilo que penso que deviam ser os objectivos do governo na promoção das empresas portuguesas e a ideologia do PS. O governo PS fez bem em financiar as universidades que formaram os engenheiros por trás da Critical Sofware. Ainda bem que isso aconteceu. Mas do ponto de vista financeiro, não me parece que a empresa seja um êxito enorme. A qualquer momento, um concorrente de maior dimensão pode interessar-se pelo seu mercado e desenvolver uma tecnologia comparável ou melhor. Parece-me que se trata de uma empresa frágil.
A título de exemplo, podemos pegar em um país mais ou menos semelhante a Portugal, mas mais desenvolvido, digamos a Irlanda (bem – há muitas diferenças entre os dois países mas entendem o que quero dizer.) Na Irlanda existe uma empresa do sector farmacêutico e da biotecnologia, que também tem uma forte componente tecnológica e se chama Elan. A empresa existe desde os anos sessenta e tem actualmente um valor de mercado de mais de EUR3,500 milhões. Estamos a falar de uma grande empresa onde trabalham muitos engenheiros e biólogos muito bem formados pelas universidades Irlandesas. Se o governo, na Irlanda, viesse defender que investiu na educação e que isso beneficiou empresas tais como a Elan, eu entendia. Agora dizer que se investiu na educação e que o resultado é uma empresa que factura 8 milhões de Euros e vende um software para meia dúzia de clientes, francamente a mim não me impressiona muito.
Esta obsessão pela Critical Sofware só vem revelar o seguinte: não existe uma empresa de tecnologia em Portugal que reúna dois atributos: vender um produto de ponta e ter atingido uma grande dimensão ao capturar quota de mercado a nível internacional. Aquelas que existem porventura não querem ser utilizadas pelo PS para a sua campanha. Por isso, para apresentar trabalho feito, o PS é obrigado a recorrer a estes exemplos de forma obsessiva.
Temo que os efeitos da crise sejam assimétricos e que as PMEs de software tenham capacidades de I&D mais limitadas e provavelmente um rating de crédito inferior às empresas de maior dimensão, o que limitará o seu acesso ao mercado de capitais. Nestas condições, empresas como a Critical Sofware poderão chegar à conclusão que a crise actual torna mais difícil aceder a financiamento que é essencial para continuar a desenvolver o seu produto.
Se olharmos para os Estados Unidos, a promoção das empresas de base tecnológica é um assunto mais do partido Republicano do que dos Democratas, apesar da administração Clinton ter defendido o desenvolvimento das empresas de tecnologia americanas até a bolha dot.com rebentar. Resta que os empresários de Silicon Valley acreditam que o desenvolvimento tecnológico combinado com liberalismo económico e espírito empreendedor, trazem uma vantagem concorrencial aos EUA. Isto são ideias mais próximas do partido Republicano.
Em Portugal temos um governo de centro-esquerda que pelo menos não cria demasiadas barreiras ao desenvolvimento das empresas de tecnologia, apesar de os seus esforços de promoção não terem tido até à data resultados espectaculares.