Monthly Archives: October 2009

O processo de falência nos Estados Unidos (2)

Há vários métodos para liquidar uma empresa nos Estados Unidos. Há que distinguir entre processos feitos em tribunal e fora de tribunal.

A empresa pode optar, através de uma resolução do seu Conselho de Administração, por entrar em liquidação de forma voluntária. Trata-se de um processo de “assignement for the benefit of creditors”. Neste caso a empresa entrega a sua administração a um administrador encarregado de a liquidar.

Fora isso também existem opções executadas em tribunal.

O processo de Chapter 11 é o mais conhecido nos media, trata-se de um processo reservado a empresas de maior dimensão e que pretendem reorganizar-se e continuar em funcionamento. Um exemplo actual é a GM.

O processo para empresas de menor dimensão é o Chapter 7. Há duas maneiras de entrar em Chapter 7. A primeira é a empresa decidir, de novo na sequência de um voto do seu Conselho de Administração, pela liquidação em tribunal. Trata-se de um processo voluntário. A segunda é o chamado processo involuntário ou seja, se existem três ou mais entidades às quais a empresa deve mais de $15.000 estas têm poder para forçar que a empresa entre em Chapter 7 se na sua opinião, existe uma probabilidade reduzida da empresa honrar os seus compromissos.

Chegamos assim à conclusão que o processo de falência nos Estados Unidos oferece mais protecção ao investidor do que parecia à primeira vista. O processo de Chapter 11, mais mediático, dá uma primeira impressão segundo a qual nos Estados Unidos as empresas entram em falência e depois saem ao fim de algum tempo. Isso é verdade, mas esconde o facto de muitas empresas de menor dimensão e que atravessam dificuldades não terem outra solução senão fechar as portas. A realidade é pois bastante semelhante ao que se passa na Europa no que toca ao essencial ou seja uma empresa de pequena dimensão que tenha dificuldades e não consiga pagar o que deve não tem outra opção senão entrar em liquidação.

Primeiro post em Ubuntu

Primeiro post em Ubuntu

É com grande satisfação que escrevo o meu primeiro post para o qual utilizei o sistema operativo Ubuntu.

Usei o Wubi (http://wubi-installer.org/) para descarregar o sistema operativo Ubuntu por cima do Windows.

Reiniciei o PC e deu-me duas opções: iniciar o PC em Ubuntu ou Windows – escolhi Ubuntu.

Os gráficos são melhores do que no Windows Vista. A definição no meu ecrã é melhor.

O sistema operativo é claramente melhor do que o Windows Vista – sem comparação. Ligar à Internet foi muito fácil – estou a usar uma pen USB. É muito mais simples do que no Windows, onde o software do operador que uso é muito mau. Aqui, o sistema operativo trata de tudo.

De seguida, observei que o Ubuntu já vem com uma série de programas instalados entre eles o browser  Firefox (que é como sabem melhor do que o Explorer ou aliás que o Chrome, na minha opinião) bem como uma versão open-source do Office – que a meu ver é melhor do que a versão da Microsoft.

Por isso, este post foi escrito, como tinha previsto, usando um sistema operativo open-source e o Google Docs. Ou seja não usei uma única linha de código da Microsoft e tudo o software que usei foi à borla. Mesmo – foi de graça, não paguei nada por ele. E funciona melhor do que o software de uma empresa cuja capitalização de mercado é de $237 bi. Via doer para a Microsoft. Ainda leva alguns anos.

Caminhos divergentes do BBVA, Santand…

Caminhos divergentes do BBVA, Santander e BCP. Há alguns anos, os dois bancos espanhóis eram entidades com mais ou menos o mesmo tamanho enquanto que o BCP valia mais ou menos metade daquilo que valiam os seus congéneres espanhóis.

Uma maneira de avaliar o desenvolvimento e criação de valor de um banco comercial é pela capitalização de mercado. Existem outras medidas e claro que os bancos espanhóis compraram no estrangeiro e muito enquanto que o BCP estava mais entretido em lutas internas e em destruir valor para o accionista. Resta que o valor de mercado é uma medida a ter em consideração. Não mede a rentabilidade mas dá uma indicação quanto à criação de valor para o accionista.

Em 2002, o BBVA tinha uma capitalização bolsista de €29.000 milhões e o Santander €31.000 milhões. Já o BCP tinha uma capitalização bolsista de €16.000 milhões, mais ou menos metade dos seus congéneres espanhóis.

Em 2009, o Santander vale cerca de €85.000 milhões enquanto que o BBVA anda por volta dos €43.000 milhões. O BCP, orgulho da nossa banca, vale menos de €5.000 milhões (e será que os vale mesmo?). Pelo caminho, o Santander criou o único gestor de grande projecção português do sector financeiro.

O processo de falência nos Estados Un…

Do ponto de vista do investidor quando as coisas correm mal importa
saber quais são as opções. Uma delas é forçar a empresa a abrir
falência. O processo de falência nos Estados Unidos na realidade não é tão inocente como se pode pensar à primeira vista e oferece maior protecção aos investidores do que parece.

Para além dos processos de tipo Chapter 11, basta que três credores se reúnam e tenham dívidas acima de alguns milhares de $ para que a empresa seja forçada a abrir falência. Isto pode ser uma maneira do investidor receber alguns activos resíduais.

De qualquer modo aquilo que é importante notar é que o investidor tem direito a aceder a toda a informação financeira e legal que necessitar sobre a empresa. Um dos primeiros passos é sempre necessariamente entender em que estado é que a empresa está e isso passa por ter acesso à informação. Uma equipa de gestão de uma empresa em dificuldades que não partilhe informação com os seus accionistas está a entrar em rota de colisão e o investidor tem o direito de receber toda a informação de que necessita para avaliar a situação na qual a empresa se encontra.

Para além disso, nos Estados Unidos é mais fácil um investidor dispensar os administradores de uma empresa, do que na Europa. É curioso entender que na Europa, a legislação dá mais protecção aos empresários se as coisas correrem mal no sentido em que é mais difícil despedir uma equipa de gestão e no entanto, toda a gente parece querer ser empresário nos Estados Unidos…

Software open-source e cloud computing

Eu cá não gosto de monopólios. Bem sei que a Microsoft faz software bom mas embirro com toda a gente usar o Windows e o Office, faz-me confusão.

Além disso faz-me confusão que a Microsoft ande a tourear a comissão europeia há tantos anos.

Por isso gosto de duas ideias. A primeira é o software open-source que é desenvolvido por uma global comunidade de informáticos que desenvolve software cujo código é público.

A segunda é o cloud computing, que permite trabalhar e guardar documentos ou outros dados em servidores e aceder aos mesmos através de um browser, na Internet. Isto por oposição a guardar documentos em PCs ou uma rede local aos quais só podemos aceder com o Windows.

Este post foi escrito em Google Docs, que é um exemplo de cloud computing. A Google guarda os documentos no seu servidor, posso organizar as minhas pastas e publico no blog carregando em um botão. Além disso a gestão dos ficheiros é francamente melhor e mais fácil do que o Windows. Tem muito mais funcionalidade – a malta da Google tem jeito para desenvolver software, como devem desconfiar.

Quanto ao open-source, acedo ao Google Docs usando o Firefox, um browser open-source desenvolvido pela fundação Mozilla.

Bem sei que a Google também é uma empresa enorme mas não é tão grande como a Microsoft. Além disso o Google Docs pode ser acedido a partir de qualquer browser incluindo o Firefox o que significa que é uma aplicação aberta.

Neste momento o Google Docs é de graça mas se no futuro tiver que pagar, não me importo, porque gosto do software e penso que me estão a prestar um serviço.

Penso chegar ainda mais longe. O meu amigo Agostino Russo desenvolveu um programa open-source, chamado Wubi (wubi-installer.org/) que permite descarregar e instalar um sistema operativo chamado “Ubuntu” por cima do Windows ou seja sem desinstalar o Windows. O Ubuntu é um sistema operativo open-source e um concorrente do Windows.

Brevemente, poderei escrever os meus posts usando um browser open-source a operar em um sistema operativo open-source para aceder ao Google Docs. O que significa que terei publicado umas coisas na Internet sem usar uma única linha de código Microsoft.

Por falar no meu amigo Agostino Russo, ele começou a desenvolver o Wubi há alguns tempos nos seus tempos livres. Neste momento, o software já foi descarregado por milhões de pessoas. Se escrever a palavra “Agostino” no Google, o Google vai sugerir o nome Agostino Russo. Experimente. Ele tornou-se famoso apesar de não aparecer na televisão.

São estas coisas que me convencem que vamos sair desta crise e que as coisas vão melhorar. A sério. Outra consequência é que vou comprar acções da Google para guardar. Sei que provávelmente o preço já incorpora toda a informação acerca do crescimento futuro mas penso que se trata verdadeiramente de uma empresa que pode rivalizar com a Microsoft, finalmente. Vou comprar e guardar durante uns cinco anos para ver o resultado.

Eleições autárquicas e urbanismo na Califórnia

Estive recentemente na Califórnia e a primeira coisa que chamou a minha atenção foi o ordenamento do território, que é perfeito. Perguntei à minha volta qual seria segredo, e a primeira pergunta foi como conseguiam convencer os proprietários dos terrenos a vender parcelas tão grandes. Na California os bairros são uniformes e as estradas costumam ser rectas. Isto contráriamente à Europa, onde há curvas e mais curvas e estamos habituados às cidades serem urbanizadas terreno por terreno, à medida que os proprietários vão construindo em cima das suas pequenas parcelas.

A resposta foi primeiro que nobody cares about the land anyway e que na California do pós-guerra, quando se começou a urbanizar, os terrenos eram enormes e eram propriedade de apenas umas quantas pessoas.

Por exemplo os terrenos onde agora se encontra Irvine, uma cidade que começou a desenvolver-se no pós-guerra, eram propriedade de James Irvine Jr. Quando este morreu em 1947 o seu filho Myford Irving vendeu a sua propriedade de uma só vez à Irvine Company para urbanização. Neste momento, a cidade tem mais de 140.000 habitantes.

Por outro lado, os promotores imobiliários em cidades como San Diego costumam desenvolver não uma urbanização mas uma community ou seja habitação, parques, escolas, igrejas, escritórios bem como uma parte das estradas e parte da infra-estrutura. O valor de venda das casas é suficientemente alto para permitir que o promotor construa parte da infra-estrutura e equipamentos e ainda tenha um bom retorno sobre o seu investimento. Isto nos bairros melhores – mas há tantos bairros bons na Califórnia… São quilómetros de bairros bons.

Existe uma negociação entre o promotor imobiliário e as autoridades locais no início de desenvolvimento de cada community. São negociados a extensão dos parques e o número de escolas, equipamentos e infra-estrutura a construir para apoiar cada bairro. Se o promotor não executar será penalizado. Notem que as autoridades locais raramente negoceiam com uma empresa de construção civil mas sim com um promotor imobiliário que se irá encarregar da gestão do projecto.

Este modelo serve de base ao desenvolvimento urbano harmonioso que faz da Califórnia um sítio bom para viver. Claro que a Califórnia tem os seus problemas, com desemprego alto no momento actual e dívidas por pagar, mas com os problemas deles estávamos nós bem e estou a falar não só de Portugal como de muitos países Europeus.

Tudo isto a propósito das eleições autárquicas em Portugal, onde não me recordo ter alguma vez ouvido algum candidato abordar este assunto. Sei que em Portugal alguns bairros de Lisboa, tais como a chamada “alta de Lisboa” já foram construídos segundo este modelo.

Não quero dizer mal do país mas os resultados na California são de tal modo melhores que a comparação é inevitável. Penso que também haverá um problema de educação. Nos Estado Unidos creio que mais de 30% da população tem curso superior, muitos licenciados trabalham no poder local e pelos vistos têm força e formação suficientes não só para planear como para negociar com um promotor imobiliário e fazer valer a sua posição. Pergunto qual será a percentagem de pessoas no poder local em Portugal com responsabilidades de planeamento urbano que têm formação superior.

Claro que se pode trabalhar bem sem ir à Universidade. Mas se a minha profissão fosse cirurgião e só tivesse o 12º ano, aceitava que eu o operasse e depois julgava-me pelos resultados?

O processo de falência nos Estados Unidos

O processo de falência nos Estados Unidos é chamado “Chapter 11”. Todos ouvimos falar de empresas que se reorganizaram através do Chapter 11, normalmente trata-se de grandes empresas que aparecem nas notícias.

Na realidade, o processo de Chapter 11 dá pouca protecção aos investidores. O sistema nos EUA está desenhado, contráriamente à abordagem patrimonial que está em vigor na Europa, para tentar salvar a empresa e não para encontrar culpados.

Um dos primeiros riscos para o investidor quando uma empresa está em uma situação de dificuldades é que a equipa de gestão desapareça, se demita e vá fazer outra coisa na vida. O investidor pode então ficar com uma empresa nas mãos que não tem qualquer viabilidade, um monte de dívidas e pouco futuro. O problema é ainda mais grave se a empresa ficar a dever dinheiro à banca.

A pergunta é portanto que tipo de protecção é que o Chapter 11 dá ao investidor. A resposta parece ser muito pouca. De facto, o Chapter 11 é um processo voluntário pelo que se a equipa de gestão não estiver interessada em participar, não haverá muito a fazer. Mesmo que seja tomada a decisão de entrar em Chapter 11, a verdade é que não existe uma obrigação estrita para a equipa de gestão tentar liquidar as dívidas e devolver valor aos accionistas.

O sistema favorece o empreendedorismo. Nos EUA um empresário poder perder tudo e recomeçar. Mas o reverso da medalha é que o investidor está a tomar um risco enorme.

Cristina De Middel

Cristina de Middel
The Siesta, 2009