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Continuous flow

O processo de “continuous flow”, tornado famoso pela Toyota (em japonês 連続フロー) poderá ser descrito de várias maneiras. Trata-se de uma forma de organizar o sistema de produção (de um produto ou serviço) de forma a deixar que os clientes determinem o resultado da linha de produção e “puxem” pelos produtos.

Por exemplo no caso de um automóvel, serão as necessidades dos clientes que conduzem a um aumento ou redução da produção bem como à especificação do produto.

Os defensores deste método de produção, que se aplica tanto a produtos como a serviços, defendem que se trata de uma maneira de reduzir custos, inventários e tempos de entrega.

O conceito pareceu-me bastante óbvio ao início. Pensei – mas não será que todas as empresas funcionam assim? Acontece que não, nem sempre é assim. Por exemplo um fabricante de roupa, para falar em outro sector, poderá decidir que pode fabricar um tecido em 1,000 cores diferentes. Um fabricante que tenha uma fábrica a funcionar tem que comprar uma certa cor para a aplicar a tecido e fácilmente poderá comprar milhares de outras cores. No caso da indústria automóvel, um fabricante poderá decidir produzir vários modelos de automóveis porque a sua fábrica o permite. Se os consumidores não estiverem interessados em um tipo de modelo, isso só irá levar a um acumular de inventário.

O continuous flow dita que só deve ser produzido aquilo que é procurado pelos consumidores.

Uma das desvantagens deste modelo é que a linha de produção pára, se houver problemas já que os stocks foram reduzidos ao mínimo (o continuous flow é mais abrangente do que aquilo que se costuma chamar o “just in time”).

É mais fácil entender o verdadeiro significado do continuous flow se pensarmos naquilo que eram os Toyotas nos anos ’60 e ’70. Tratava-se de automóveis cujas formas e cores eram bastante feias para gostos ocidentais. Nessa altura, a Toyota tinha como objectivo central, como ainda tem, satisfazer as preferências dos consumidores japoneses. Trata-se do seu maior mercado e para além disso, a Toyota estava convencida que todo o mundo deveria estar interessado em ter automóveis semelhantes àquilo que a empresa acreditava que os consumidores japoneses queriam. Adaptar os seus automóveis a cada mercado estava completamente posto de lado, já que iria conduzir a uma complicação do processo de produção e poderia significar um abandono do princípio de continuous flow e só poderia conduzir a aumento de custos.

É interessante notar que mesmo hoje, os modelos da Toyota que se vendem no Japão não são muito diferentes daquilo que a empresa vende no exterior, com excepção de certos nichos de mercado. Por exemplo, o Prius é mais ou menos igual em todo o lado, bem como o Corolla ou os modelos da Lexus.

Nos anos ’60 e ’70 as pessoas achavam os carros japoneses muito feios e um consumidor que desse muita importância à imagem não comprava um carro japonês. Provavelmente optava por um carro italiano o que já na altura significava também o início de uma bela relação com o seu garagista.

No entanto, começaram a vender-se cada vez mais Toyotas na Europa e nos Estados Unidos sobretudo nos anos ’80 e ’90. Certas pessoas ligavam menos ao estilo e aperceberam-se que a qualidade dos Toyotas era boa.

Actualmente, muita gente compra Toyotas e Lexus. Alguns dos modelos são ligeiramente adaptados para o mercado europeu e norte-americano. Mas aquilo que mudou realmente é que os consumidores japoneses começaram a ter gostos mais próximos dos Europeus e Americanos, resultado da globalização. Por isso a grande maioria dos modelos da Toyota e Lexus continua a ser igual no Japão, na Europa e nos Estados Unidos. Os consumidores Europeus e Americanos cada vez gostam mais dos carros com estilo japonês porque este se tornou mais ocidentalizado.

A aposta da Toyota no continuous flow e a sua crença de que um dia, o resto do mundo se iria alinhar com as preferências dos consumidores japoneses acabou por se revelar uma estratégia de sucesso.

O que é curioso observar é que, à medida que os automóveis da Toyota foram ganhando fatia de mercado, talvez tenha havido alguns compromissos com a qualidade, cujo exemplo são os defeitos com o acelerador que tem levado a empresa a ser alvo de críticas sobre a qualidade do produto.