Monthly Archives: February 2010

Rita Portugal (1)


Rita Portugal
Sem Título, 2010

Ler a revista "Sábado"

Uma das revistas mais lidas em Portugal é a Sábado. Acabo de ler o nº 302, da semana passada. A revista trata de uma série de assuntos, mas cheguei à conclusão que tinha perdido o meu tempo.

Interrogo-me portanto sobre a razão pela qual a Sábado vende tanto.

Trata-se de uma publicação na qual os jornalistas continuam a seguir a sua rotina, escrevendo sobre os assuntos de sempre, as pessoas de sempre. Na página 42 um artigo sobre os médicos de Oprah. A notícia deixa bem claro que o colesterol faz mal às artérias e que o stresse provoca úlceras. Não é exactamente novidade. Na página 46, um artigo sobre a senhora Boa Sénior, que acaba de falecer. Tratava-se da última representante dos “Bo” uma tribo das ilhas Andamã, no golfo de Bengala. Será que esta notícia tem algum interesse? Segue-se um artigo sobre as escutas. Todo o conteúdo é sobre hipóteses, teorias – nada de factos, nada de novo. Na página 111 (já vai em 111 páginas!) publicidade ao livro dos médicos de Oprah, que afinal é editado pela Sábado em parceria com a Multicare. A revista traz também uma biografia de Meryl Streep.

A Sábado serve para mim de exemplo de um dos maiores erros de estratégia que uma empresa pode cometer. De facto, a Sábado é uma revista sem qualquer especialização.

Tenho lidado com várias empresas que fabricam produtos que são quase tão bons como os da concorrência. Por exemplo, segui durante algum tempo uma empresa de software que tinha três produtos. Nenhum dos três era o melhor do mercado, nem sequer estava entre os melhores. A empresa estava a atravessar grandes dificuldades. Passa-se o mesmo com a Sábado. Se eu quiser ler sobre saúde, de certeza que vou encontrar um artigo melhor do que aquele que apareceu na Sábado em torno dos médicos de Oprah. O artigo sobre a Srª Boa não tem para mim o mínimo interesse. E a biografia de Meryl Streep não permitia tirar nenhuma conclusão sobre as razões pelas quais a actriz consegue ter tanto sucesso de forma consistente. Fiquei a saber que é perfeccionista – é verdade… Que surpresa.

A falta de especialização e o gosto da redacção pela rotina estão a destruir o que resta da revista.

Certo é que os media em Portugal têm tendência para a alienação ou seja passam ao lado daquilo que verdadeiramente importa aos seus leitores. O sector dos media atravessa uma crise enorme e a Sábado está cada vez pior. Será que o segredo do sucesso da Sábado é satisfazer leitores que só procuram ler sobre banalidades? Será que as pessoas só compram a revista para ler o artigo de opinião do Pacheco Pereira? Nesse caso, mais valia cortar nas páginas e nos custos.

Cimpor ao rubro!

Meus amigos – vamos lá entender o que se está a passar.

A CSN aumentou a sua oferta pela cimenteira para €6,18 por acção.

Inicialmente a oferta estava condicionada à CSN obter mais de 50% das acções. Nesta nova oferta, a CSN só tem que adquirir 33% mais uma acção para a OPA ser válida.

O que é que isto significa? Quer dizer que, se 33% dos accionistas oferecer as suas acções à OPA, a CSN se compromete a adquirir as restantes acções e irá considerar que a sua OPA teve sucesso.

No entanto isso não é o fim da história. A Camargo Corrêa e a Votorantim têm neste momento uma participação conjunta de mais de 50% da cimenteira (isto está explicado no grande jornal económico português A Bola). Isso quer dizer que, mesmo que a CSN chegue ao valor de 33% isso não garante grande coisa…

A única maneira que a CSN teria para forçar a Camargo Corrêa e a Votorantim a venderem a sua participação seria o chamado “squeeze-out” ou seja um processo de aquisição obrigatória de acções. Ora segundo a directiva europeia, isso só é possível se a CSN conseguisse comprar mais de 90% das acções da empresa.

Sendo assim a nova oferta da CSN tem poucas probabilidades de sucesso.

Portugal não funciona assim. O governo é que manda. Se a Teixeira Duarte decidiu vender a posição à Camargo Corrêa então foi essa a empresa designada pelo governo para ser o novo accionista de referência da empresa, ponto final. Amigos brasileiros da CSN – é assim, é o país que temos. Quem fica a perder são os accionistas minoritários, que podiam ter vendido a €6,18 e que vão ficar a ver navios.

Sobre a proposta de redução do salário de Sócrates por Paulo Portas

Paulo Portas propôs hoje ao primeiro-ministro que reduzisse o seu salário para dar o exemplo…

O primeiro-ministro, ainda agradecido ao CDS por ter permitido a aprovação do orçamento, respondeu que não se iria opor a uma proposta do CDS nesse sentido no entanto que essa medida não resolvia o problema.

O líder do CDS poderá pensar que aumenta a sua popularidade ao anunciar esta medida. Na realidade, demonstra uma total falta de senso comum e até irracionalidade económica.

Mais estranho ainda, não fora a aprovação do orçamento, foi a reacção de Sócrates. Isto só prova que quando o governo fica a dever favores à oposição, as regras normais invertem-se e surgem situações estranhas.

Vejamos. Um primeiro-ministro não é eleito para ser boa pessoa. Trata-se de uma pessoa com sede de poder e que está habituada a tomar decisões que envolvem muito dinheiro, senão não teria chegado a primeiro-ministro – certamente não chegou lá por acaso. Um primeiro ministro merece ser bem pago porque está lá para trabalhar dia e noite, sobretudo neste momento em que o país atravessa dificuldades.

Será que o Dr. Paulo Portas acredita que os membros do governo e os deputados não valem o que recebem? Nesse caso devia despedir-se já quem aprovou o orçamento. Estamos claramente a entrar na loucura.

Do ponto de vista económico, para uma economia capitalista funcionar, as pessoas têm que acreditar que ganhar mais é melhor do que ganhar menos. Que vale a pena serem promovidas. Se não se cumprem estas condições entramos num universo no qual os agentes económicos deixam de ser racionais e quem sabe onde vamos parar.

Já de um ponto de vista moral, aceitar uma redução de salário introduz uma distinção perigosa entre os membros do governo e os deputados de um lado e os funcionários públicos de outro. A elite aceita uma redução de salário e fica imediatamente em uma posição de superioridade relativamente aos funcionários públicos que se limitaram a ter os salários congelados. Cria-se assim uma situação revoltante na qual o primeiro-ministro se torna em um ser superior, uma espécie de santo que renuncia aos bens materiais para o bem da pátria.

Como o salário é apenas uma das variáveis na remuneração de ministros e deputados, não tenho dúvidas que seria fácil subverter o sistema para o governo e os deputados obterem benesses que compensariam a redução do salário.

Os blogues que falam sobre este assunto são unânimes em criticar a sugestão de Paulo Portas e a reacção do primeiro ministro, o que parece confirmar que as pessoas continuam a comportar-se de maneira racional.

Acho o cúmulo que um dirigente de um partido de direita tenha coragem de pedir ao líder do PS para ganhar menos… Será que ele pensa que o PS é um partido anti-materialista? Por favor… Até os Beatles eram materialistas… O Paul McCartney disse a um jornalista que por vezes se virava para o John Lennon e dizia “Agora vamos escrever uma piscina”.