Uma das revistas mais lidas em Portugal é a Sábado. Acabo de ler o nº 302, da semana passada. A revista trata de uma série de assuntos, mas cheguei à conclusão que tinha perdido o meu tempo.
Trata-se de uma publicação na qual os jornalistas continuam a seguir a sua rotina, escrevendo sobre os assuntos de sempre, as pessoas de sempre. Na página 42 um artigo sobre os médicos de Oprah. A notícia deixa bem claro que o colesterol faz mal às artérias e que o stresse provoca úlceras. Não é exactamente novidade. Na página 46, um artigo sobre a senhora Boa Sénior, que acaba de falecer. Tratava-se da última representante dos “Bo” uma tribo das ilhas Andamã, no golfo de Bengala. Será que esta notícia tem algum interesse? Segue-se um artigo sobre as escutas. Todo o conteúdo é sobre hipóteses, teorias – nada de factos, nada de novo. Na página 111 (já vai em 111 páginas!) publicidade ao livro dos médicos de Oprah, que afinal é editado pela Sábado em parceria com a Multicare. A revista traz também uma biografia de Meryl Streep.
A Sábado serve para mim de exemplo de um dos maiores erros de estratégia que uma empresa pode cometer. De facto, a Sábado é uma revista sem qualquer especialização.
A falta de especialização e o gosto da redacção pela rotina estão a destruir o que resta da revista.
Certo é que os media em Portugal têm tendência para a alienação ou seja passam ao lado daquilo que verdadeiramente importa aos seus leitores. O sector dos media atravessa uma crise enorme e a Sábado está cada vez pior. Será que o segredo do sucesso da Sábado é satisfazer leitores que só procuram ler sobre banalidades? Será que as pessoas só compram a revista para ler o artigo de opinião do Pacheco Pereira? Nesse caso, mais valia cortar nas páginas e nos custos.
Meus amigos – vamos lá entender o que se está a passar.
A CSN aumentou a sua oferta pela cimenteira para €6,18 por acção.
Inicialmente a oferta estava condicionada à CSN obter mais de 50% das acções. Nesta nova oferta, a CSN só tem que adquirir 33% mais uma acção para a OPA ser válida.
O que é que isto significa? Quer dizer que, se 33% dos accionistas oferecer as suas acções à OPA, a CSN se compromete a adquirir as restantes acções e irá considerar que a sua OPA teve sucesso.
No entanto isso não é o fim da história. A Camargo Corrêa e a Votorantim têm neste momento uma participação conjunta de mais de 50% da cimenteira (isto está explicado no grande jornal económico português A Bola). Isso quer dizer que, mesmo que a CSN chegue ao valor de 33% isso não garante grande coisa…
A única maneira que a CSN teria para forçar a Camargo Corrêa e a Votorantim a venderem a sua participação seria o chamado “squeeze-out” ou seja um processo de aquisição obrigatória de acções. Ora segundo a directiva europeia, isso só é possível se a CSN conseguisse comprar mais de 90% das acções da empresa.
Sendo assim a nova oferta da CSN tem poucas probabilidades de sucesso.
Portugal não funciona assim. O governo é que manda. Se a Teixeira Duarte decidiu vender a posição à Camargo Corrêa então foi essa a empresa designada pelo governo para ser o novo accionista de referência da empresa, ponto final. Amigos brasileiros da CSN – é assim, é o país que temos. Quem fica a perder são os accionistas minoritários, que podiam ter vendido a €6,18 e que vão ficar a ver navios.
Paulo Portas propôs hoje ao primeiro-ministro que reduzisse o seu salário para dar o exemplo…
O primeiro-ministro, ainda agradecido ao CDS por ter permitido a aprovação do orçamento, respondeu que não se iria opor a uma proposta do CDS nesse sentido no entanto que essa medida não resolvia o problema.
O líder do CDS poderá pensar que aumenta a sua popularidade ao anunciar esta medida. Na realidade, demonstra uma total falta de senso comum e até irracionalidade económica.
Mais estranho ainda, não fora a aprovação do orçamento, foi a reacção de Sócrates. Isto só prova que quando o governo fica a dever favores à oposição, as regras normais invertem-se e surgem situações estranhas.
Vejamos. Um primeiro-ministro não é eleito para ser boa pessoa. Trata-se de uma pessoa com sede de poder e que está habituada a tomar decisões que envolvem muito dinheiro, senão não teria chegado a primeiro-ministro – certamente não chegou lá por acaso. Um primeiro ministro merece ser bem pago porque está lá para trabalhar dia e noite, sobretudo neste momento em que o país atravessa dificuldades.
Será que o Dr. Paulo Portas acredita que os membros do governo e os deputados não valem o que recebem? Nesse caso devia despedir-se já quem aprovou o orçamento. Estamos claramente a entrar na loucura.
Do ponto de vista económico, para uma economia capitalista funcionar, as pessoas têm que acreditar que ganhar mais é melhor do que ganhar menos. Que vale a pena serem promovidas. Se não se cumprem estas condições entramos num universo no qual os agentes económicos deixam de ser racionais e quem sabe onde vamos parar.
Já de um ponto de vista moral, aceitar uma redução de salário introduz uma distinção perigosa entre os membros do governo e os deputados de um lado e os funcionários públicos de outro. A elite aceita uma redução de salário e fica imediatamente em uma posição de superioridade relativamente aos funcionários públicos que se limitaram a ter os salários congelados. Cria-se assim uma situação revoltante na qual o primeiro-ministro se torna em um ser superior, uma espécie de santo que renuncia aos bens materiais para o bem da pátria.
Como o salário é apenas uma das variáveis na remuneração de ministros e deputados, não tenho dúvidas que seria fácil subverter o sistema para o governo e os deputados obterem benesses que compensariam a redução do salário.
Os blogues que falam sobre este assunto são unânimes em criticar a sugestão de Paulo Portas e a reacção do primeiro ministro, o que parece confirmar que as pessoas continuam a comportar-se de maneira racional.
Acho o cúmulo que um dirigente de um partido de direita tenha coragem de pedir ao líder do PS para ganhar menos… Será que ele pensa que o PS é um partido anti-materialista? Por favor… Até os Beatles eram materialistas… O Paul McCartney disse a um jornalista que por vezes se virava para o John Lennon e dizia “Agora vamos escrever uma piscina”.