Monthly Archives: March 2010

Não seria melhor partir o BCP?

Tenho uma sugestão para o governo. Já que precisam de fundos para compensar o déficit por que não vender a participação que a Caixa tem no BCP para depois distribuir um dividendo extraordinário? Para tornar possível tal operação, basta partir o BCP em vários bocados.

Nos últimos meses vários bancos foram forçados a dividirem as suas actividades e venderem parte. O caso mais interessante é o do ING, que seguia o modelo do “bancassurance”. O banco obteve uma ajuda enorme do governo e o regulador veio agora pedir que o banco fosse partido. É o preço a pagar pela ajuda de €10 bi que recebeu. O banco vai vender as suas operações de seguros e banca por Internet nos Estados Unidos. O banco quase foi ao fundo depois de comprar montanhas de subprime, como vem explicado aqui.

Queria só fazer um paralelo com o BCP. Trata-se de um caso semelhante, um banco universal com presença no mercado dos seguros. Basta olhar para o preço da acção do BCP nos últimos 5 anos (a azul) comparado com o índice europeu MSCI Europe para entender que, com ajuda do Estado ou sem ela, o banco não está a ir a nenhuma parte e não há restruturação que lhe valha. Não digo que seja um banco com má reputação (apesar dos offshores e companhia). Continua a ter boas marcas mas tem havido destruição de valor.

O BCP podia seguir o modelo do ING e pelos vistos da própria Caixa e separar a sua actividade bancária da actividade seguradora (que não trazem sinergias). A soma das partes vale provavelmente mais do que o todo. Depois de separadas as actividades, a seguradora poderia ser vendida o que iria fortalecer os rácios de solvabilidade e permitir a saida do Estado. Ficávamos todos a ganhar.

As exportações portuguesas

Manuel Caldeira Cabral, em artigo de opinião de 14 de Janeiro de 2010, traça a estratégia para aumentar as exportações das empresas portuguesas.

Lembra que os mercados tradicionais das empresas portuguesas (Espanha, França e Alemanha) não são aqueles que oferecem melhores oportunidades. Qual é a sugestão – bem, são várias.

Angola é um exemplo. Mas há mais. O Magrebe. A América do Sul e em especial o Brasil. E a Ásia, mercado que está em expansão.

Li outro dia que a chave de uma boa estratégia empresarial consiste em escolher onde jogar e como ganhar. Isto é uma generalidade, mas nem esta regra simples este ilustre professor da Universidade do Minho consegue seguir. Qual é a utilidade de escrever um artigo no qual se aconselha as empresas a diversificar para depois indicar que há oportunidades em todo o mundo?

Trata-se de mais um mal português, essa mania de saltitar de uma pequena coisa para a outra. Que seria das empresas se seguissem os conselhos do professor? Alemanha, Espanha e França não crescem? Bem – vamos para Angola. E quem diz Angola diz Brasil onde também se fala português. E porque não o Magrebe, que é aqui ao lado? E não esquecer a Ásia, que cresce brutalmente.

Angola é um país complicado para fazer negócios. Existe um real ressentimento contra os estrangeiros e sobretudo, portugueses. A infra-estrutura é má. O Brasil é um mundo totalmente diferente de Portugal e um continente. O Magrebe tem costumes próprios e uma cultura diferente da Europa. A Ásia é ultra-competitiva em produtos industriais.

A estratégia implica escolha. Se as empresas seguissem as sugestões do professor decerto não iriam para parte nenhuma.

O autor também fala sobre a importância dos bens transaccionáveis um argumento válido – mas já batido. O blog Câmara Corporativa chama a atenção para este argumento no entanto, não se pode dizer que seja novidade.

Rita Portugal (3)


Rita Portugal
Des (ordem), 2007

Inovação, produtividade, PMEs e fusões

Um artigo do El País sobre o congresso da Cotec, que aconteceu em Espanha dia 1 de Novembro de 2009, apresenta um diagnóstico muito sucinto e extremamente lúcido sobre a situação da economia espanhola e portuguesa.

Trata-se de um artigo que resume em poucas palavras tudo o que devia mudar em Portugal e em Espanha. Julgo que se pode resumir o artigo da seguinte maneira:

  1. Portugal e Espanha pecam por falta de produtividade. De facto o PIB por hora trabalhada em Espanha corresponde a 74% dos Estados Unidos. A estatística não é apresentada para Portugal mas parto do princípio que seja (muito) pior.
  2. A economia Portuguesa bem como a economia Espanhola são ambas compostas por um grande número de PMEs. Um comentário meu: isto é produto da incapacidade das pessoas de trabalharem em equipa e de se adaptarem a grandes organizações. Qualquer que seja a razão, as PMEs em Portugal representam 86,1% do Emprego e em Espanha, 82,2% contra 50% nos Estados Unidos.
  3. As PMEs têm pouco acesso ao conhecimento – algo que é verdade na globalidade apesar de haver PMEs muito inovadoras.
  4. Quanto Portugal e Espanha entraram na UE, as PMEs sofreram e continuam a sofrer a concorrência das empresas maiores do Norte da Europa. E cada vez mais vais ser assim.
  5. O resultado? Enquanto que o PIB conjunto de Portugal, Espanha e Itália representa 23% do PIB da UE, estes países só representam 14% da despesa de I&D da UE. É triste.

Resta às PMEs Portuguesas e Espanholas fundirem-se e adquirirem dimensão para competir internacionalmente. Quando ouço falar sobre os programas de apoio às PMEs, na prática apoio a restaurantes e lavandarias, fico com os cabelos em pé. O que não quer dizer que sou contra a existência de PMEs. Não sou contra nem a favor. O que me parece descabido é promover as PMEs que vendem produtos e serviços maduros e de pouco valor acrescentado. Existem excepções tais como a agricultura. Mas são excepções, não a regra.

Para dar um exemplo prático sobre a inovação nas PMEs: vamos partir do princípio que, nos Estados Unidos, existe uma grande empresa especializada em fornecer, lavar e passar fardas para supermercados. Serve todo mercado americano, tem milhares de clientes. Essa empresa terá muito mais facilidade em lançar um projecto inovador que lhe permita reduzir ao mínimo o tempo que leva a passar fardas. Poderá eventualmente comprar máquinas rápidas para o efeito. Em Portugal, as fardas serão lavadas à máquina e passadas à mão. Tudo isto para dizer que existem PMEs inovadoras mas não devemos ter ilusões: a esmagadora maioria das PMEs não são inovadoras. Muitas são negócios de vão de escada.

Para mim está feito o diagnóstico e quem propuser a solução terá o meu voto.

Rita Portugal (2)

Rita Portugal
seguimento I, 2009

A mão pesada da CMVM

O artigo no Diário Económico de 23 de Fevereiro sobre a CVMV é um bom exemplo de o desastre que pode ser a falta de estratégia na condução de um organismo público.

No artigo a CMVM explica, para ser sucinto, que vai ser muito mais exigente em 2010 e mais rápida.

Quando se pede a uma instituição para elaborar uma estratégia “bottom-up” ou seja quando há falta de liderança, as pessoas que nela trabalham cometem muitas vezes o mesmo erro que é de prometer uma maior eficiência e nada mais. Não há obviamente nenhum mal em ser mais eficiente. Por exemplo numa fábrica de parafusos um plano de estratégia feito à “papo seco” promete normalmente algo do tipo – em vez de produzirmos 30 parafusos por hora, vamos produzir 35. Vamos mudar os procedimentos para ser mais velozes.

No caso da CMVM o que é prometido é algo deste género. Vão mudar de procedimentos para melhorar o desempenho. As respostas aos investidores serão assim dadas em um prazo adequado (mas não eram?)

De novo para estabelecer um paralelo com a fábrica de parafusos o resultado de uma estratégia de uma empresa onde há liderança seria por exemplo: vamos mudar o nosso produtos para incluir uma liga de metais inovadora. Esperamos assim tornar-nos mais competitivos face aos fabricantes chineses. Ou então: vamos lançar uma nova área de parafusos para plataformas petrolíferas, um produto de alto valor acrescentado. Esperamos assim melhorar as nossa margens em x%.

No caso da CMVM como já referimos haveria que mudar a forma de actuação e deixar de actuar estritamente de acordo com a legislação em vigor para actuar de acordo com certos princípios. Assim, os intervenientes de mercado que não cumprissem princípios de base, a definir, que são essenciais para o funcionamento do mercado, seriam penalizados. Isto já foi referido neste blogue várias vezes ao longo do último ano.

Esta notícia, para mim, confirma o que já se suspeitava: os líderes da CMVM seguem a mentalidade de funcionalismo público bem conhecida em Portugal. A obediência pela obediência. O medo de inovar. Tudo hiper-controlado e nada feito de forma eficiente, seguindo as melhores práticas a nível internacional. É deplorável. A jornalista que relata a notícia passou totalmente ao lado deste aspecto.