Monthly Archives: September 2010

Como financiar uma empresa de tecnologia em Portugal? Quais são as dificuldades?

Um grupo de pessoas que pretenda lançar uma empresa para desenvolver ou aplicar uma tecnologia inovadora em Portugal tem uma série de desafios pela frente. Um deles é a relativa opacidade dos critérios de investimento do InovCapital. É este o assunto da minha entrevista à Económico TV, produzida pela Farol de Ideias.

Leituras de hoje

Frei Bento Domingues – Elogio dos Corruptos. Perspectiva religiosa e moral sobre a Economia e a Gestão. A Igreja Católica continua a ter uma relação complicada com os Gestores e com o sector privado – afinal, com o dinheiro.

A murky See no Financial Times, mais uma prova da difícil relação entre Igreja e dinheiro. 

Jorge Brito Pereira – A mentira. A banalização da mentira na política portuguesa. Artigo publicado no Diário Económico de 25 de Setembro. 


The “Wall Street” Effect no Financial Times – o filme, ao que parece, é bastante fraco.

Krugman – What Structural Unemployment Looks Like. Há quem goste do Krugman, há quem não goste. Eu digo na brincadeira que cheguei a considerar tatuar o nome dele no braço. Qualquer artigo escrito pelo Krugman é bom.

Falência do Grupo Mesquita

Alguns dias depois de ter sido anunciado que, no sector dos media, a Smart Advertising tinha entrado em processo de falência, eis que chega a notícia da falência de mais uma empresa do sector da construção apoiada pelo Governo (IAPMEI) – o Grupo Mesquita.

Trata-se de mais um caso infeliz de uma empresa apoiada pelo Governo através de fundos que se assemelham a mecanismos de private equity. Supostamente, esses fundos existem para promover o crescimento das empresas e da economia. Na prática, funcionam como subsídios a fundo perdido que o governo concede para salvaguardar empregos.

O Governo através do IAPMEI decidiu aplicar fundos do Estado na empresa, neste caso 5 milhões de Euros. O mecanismo usado foi o Fundo para a Revitalização e Modernização do Tecido Empresarial (FRME).

Trata-se de mais um exemplo, infeliz, da utilização de fundos públicos para recuperar empresas que, apesar de decerto terem mérito, estão a operar num sector com graves dificuldades. De novo, podemos questionar o que é que os gestores do FRME estavam a pensar quando investiram 5 milhões de Euros num sector altamente cíclico no meio da maior crise financeira de que há memória…

Será que o BPN e o BCP são bancos "Zombie"?

Acredito que sim: tanto o BPN como BCP são bancos Zombie.

Passo a explicar: quando um banco é insolvente, não acontece o mesmo que, por exemplo numa empresa industrial. Uma empresa industrial insolvente fecha as portas. Um banco insolvente não fecha necessariamente… Tem uma semi-vida na qual é autorizado a continuar a fazer negócio, normalmente pelo Estado. O comportamento de um banco quando as coisas funcionam mal é deixar tudo como está e esperar que a crise passe.

Não estou a falar de uma fantasia. Os “Bancos Zombie” existiram e ainda existem, por exemplo no Japão, como nota John Lanchester. Em 1991, o Japão passou de tigre asiático a uma economia em coma, imensamente rica mas com sectores inteiros com crescimento zero. A economia de um país, neste caso do Japão, não podia recuperar enquanto certos sectores e nomeadamente certos bancos não fechassem, isso era claro para todos mas o Governo japonês optou por manter os bancos em estado de coma. Esta situação durou mais de 15 anos no Japão… Há quem pense que o Japão ainda não saiu verdadeiramente desse estado, especialmente no sector bancário.

No caso do BPN, foi claramente o que se passou. Mesmo que o Estado consiga vender uma pequena parte do BPN (o que não é certo) existe uma enorme parte do antigo BPN que vai ficar no Estado, directamente ou através da Caixa Geral de Depósitos.

Uma nota para dar contexto: para um banco, os empréstimos concedidos são activos. Ou seja, para o BPN, os activos que ficam para trás e que continuam no balanço do Estado – ou seja do contribuinte, de todos nós, serão provavelmente empréstimos com crédito mal parado. Digo provavelmente porque na realidade, ninguém fora da Caixa Geral de Depósitos e do Ministério das Finanças sabe realmente o que está no pacote. Não foi comunicado à opinião pública.

Mesmo que o banco seja vendido, os restantes activos, que ficam para trás, serão activos Zombie – empréstimos que provavelmente nunca serão pagos, à espera que por algum acaso ou pelo longo trabalho de recuperação, alguns venham a ser pagos.

A minha pergunta é se estamos a assistir ao mesmo espectáculo no BCP. Os últimos resultados do BCP foram bastante maus, não há volta a dar-lhe. O resultado líquido e outros indicadores de rentabilidade estão em alta (2009 ainda foi pior) mas houve nova deterioração do risco de crédito e uma nova deterioração da cobertura de imparidades. O BCP tenta apresentar a coisa de forma positiva, como seria de esperar, mas a realidade é que, para a maioria dos analistas (que aliás têm errado no passado na sua apreciação do banco) os resultados foram abaixo das expectativas.

Claro que a solução radical seria limpar isto tudo, como sugere indirectamente, Medina Carreira. Admitir que, depois do Credit Crunch e no contexto económico actual, não há solução para o BCP, limpar o balanço do banco em vez de continuar a injectar liquidez. Matar o Zombie, fechar as portas, partir ou vender o BCP a quem oferecesse mais. No entanto, suspeito que nenhum Governo quer arriscar essas soluções radicais, que poderiam por em causa o sistema financeiro e criar desemprego de quadros qualificados (daqueles que votam e financiam campanhas).

Contrariamente aos Zombies, os bancos Zombie existem mesmo…