Acredito que sim: tanto o BPN como BCP são bancos Zombie.
Passo a explicar: quando um banco é insolvente, não acontece o mesmo que, por exemplo numa empresa industrial. Uma empresa industrial insolvente fecha as portas. Um banco insolvente não fecha necessariamente… Tem uma semi-vida na qual é autorizado a continuar a fazer negócio, normalmente pelo Estado. O comportamento de um banco quando as coisas funcionam mal é deixar tudo como está e esperar que a crise passe.
Não estou a falar de uma fantasia. Os “Bancos Zombie” existiram e ainda existem, por exemplo no Japão, como nota John Lanchester
. Em 1991, o Japão passou de tigre asiático a uma economia em coma, imensamente rica mas com sectores inteiros com crescimento zero. A economia de um país, neste caso do Japão, não podia recuperar enquanto certos sectores e nomeadamente certos bancos não fechassem, isso era claro para todos mas o Governo japonês optou por manter os bancos em estado de coma. Esta situação durou mais de 15 anos no Japão… Há quem pense que o Japão ainda não saiu verdadeiramente desse estado, especialmente no sector bancário.
No caso do BPN, foi claramente o que se passou. Mesmo que o Estado consiga vender uma pequena parte do BPN (o que não é certo) existe uma enorme parte do antigo BPN que vai ficar no Estado, directamente ou através da Caixa Geral de Depósitos.
Uma nota para dar contexto: para um banco, os empréstimos concedidos são activos. Ou seja, para o BPN, os activos que ficam para trás e que continuam no balanço do Estado – ou seja do contribuinte, de todos nós, serão provavelmente empréstimos com crédito mal parado. Digo provavelmente porque na realidade, ninguém fora da Caixa Geral de Depósitos e do Ministério das Finanças sabe realmente o que está no pacote. Não foi comunicado à opinião pública.
Mesmo que o banco seja vendido, os restantes activos, que ficam para trás, serão activos Zombie – empréstimos que provavelmente nunca serão pagos, à espera que por algum acaso ou pelo longo trabalho de recuperação, alguns venham a ser pagos.
A minha pergunta é se estamos a assistir ao mesmo espectáculo no BCP. Os últimos resultados do BCP foram bastante maus, não há volta a dar-lhe. O resultado líquido e outros indicadores de rentabilidade estão em alta (2009 ainda foi pior) mas houve nova deterioração do risco de crédito e uma nova deterioração da cobertura de imparidades. O BCP tenta apresentar a coisa de forma positiva, como seria de esperar, mas a realidade é que, para a maioria dos analistas (que aliás têm errado no passado na sua apreciação do banco) os resultados foram abaixo das expectativas.
Claro que a solução radical seria limpar isto tudo, como sugere indirectamente, Medina Carreira. Admitir que, depois do Credit Crunch e no contexto económico actual, não há solução para o BCP, limpar o balanço do banco em vez de continuar a injectar liquidez. Matar o Zombie, fechar as portas, partir ou vender o BCP a quem oferecesse mais. No entanto, suspeito que nenhum Governo quer arriscar essas soluções radicais, que poderiam por em causa o sistema financeiro e criar desemprego de quadros qualificados (daqueles que votam e financiam campanhas).
Contrariamente aos Zombies, os bancos Zombie existem mesmo…