Ficámos a saber na semana passada que a venda do BPN está adiada, estando o prazo alargado até 30 de Novembro.
Da minha parte, tiro várias conclusões sobre a maneira como o processo foi conduzido.
A primeira é que o Estado e a Caixa Geral de Depósitos não foram bem aconselhados. Um dos principais objectivos dos assessores financeiros aquando da venda de uma empresa (ou de um banco, como é o caso) é criar tensão competitiva ou seja, assegurar que mais do que uma entidade tem um interesse sustentado na aquisição. Deste ponto de vista, o facto dos quatro potenciais compradores se terem afastado do processo revela que a tensão competitiva não foi assegurada. Na ausência de informação em pormenor sobre o andamento do processo, posso apenas especular que o Governo, a CGD e os seus assessores terão feito uma leitura pouco adequada quanto ao ambiente de investimento actual. Quem tiver capital para investir hoje tem uma grande oferta de boas oportunidades. Vender uma empresa ou um banco no momento actual da conjuntura é difícil, já que a oferta de oportunidades de investimento excede em muito a procura. Isto significa que o Governo, ao impor cláusulas de manutenção dos empregos e outras complexidades, tornou a aquisição da rede do BPN demasiado complexa. Moralmente está correcto tentar salvar postos de trabalho – mas o mercado de fusões e aquisições, como qualquer mercado, é feito de vendedores e compradores.
A segunda é que o Governo revelou uma certa ingenuidade na condução do processo. Tendo em conta a conjuntura actual, na qual vender empresas portuguesas é muito difícil, o investidor tem a faca e o queijo na mão. Anunciar publicamente, como o fez o Governo, quantos compradores estão interessados bem como a sua identidade, é um erro que coloca o vendedor numa posição de fraqueza.
A terceira conclusão, mais geral, é que o Banco de Portugal teve culpa naquilo que se passou no BPN. Já escrevi isto várias vezes neste blogue – por exemplo aqui. Se o Banco de Portugal tivesse tomado providências mais cedo, esta situação podia ter sido corrigida. Estamos agora, em 2010, a pagar o preço da falta de intervenção atempada do Banco de Portugal. Tudo isto deveria ter sido feito em 2007. Já lá vão 3 anos. O próprio Vítor Constâncio reconheceu que o Banco de Portugal foi ingénuo.
A minha conclusão geral quanto ao assunto da venda é a seguinte: se o processo tivesse sido conduzido de forma mais discreta e com uma visão adequada daquilo que é a realidade do mercado de fusões e aquisições no momento actual, o desfecho poderia ter sido diferente. Resta saber se a situação ainda pode ser invertida – tenho as minhas dúvidas.