Monthly Archives: October 2010

BPN: como não conduzir um processo de venda

Ficámos a saber na semana passada que a venda do BPN está adiada, estando o prazo alargado até 30 de Novembro.

Da minha parte, tiro várias conclusões sobre a maneira como o processo foi conduzido.

A primeira é que o Estado e a Caixa Geral de Depósitos não foram bem aconselhados. Um dos principais objectivos dos assessores financeiros aquando da venda de uma empresa (ou de um banco, como é o caso) é criar tensão competitiva ou seja, assegurar que mais do que uma entidade tem um interesse sustentado na aquisição. Deste ponto de vista, o facto dos quatro potenciais compradores se terem afastado do processo revela que a tensão competitiva não foi assegurada. Na ausência de informação em pormenor sobre o andamento do processo, posso apenas especular que o Governo, a CGD e os seus assessores terão feito uma leitura pouco adequada quanto ao ambiente de investimento actual. Quem tiver capital para investir hoje tem uma grande oferta de boas oportunidades. Vender uma empresa ou um banco no momento actual da conjuntura é difícil, já que a oferta de oportunidades de investimento excede em muito a procura. Isto significa que o Governo, ao impor cláusulas de manutenção dos empregos e outras complexidades, tornou a aquisição da rede do BPN demasiado complexa. Moralmente está correcto tentar salvar postos de trabalho – mas o mercado de fusões e aquisições, como qualquer mercado, é feito de vendedores e compradores.

A segunda é que o Governo revelou uma certa ingenuidade na condução do processo. Tendo em conta a conjuntura actual, na qual vender empresas portuguesas é muito difícil, o investidor tem a faca e o queijo na mão. Anunciar publicamente, como o fez o Governo, quantos compradores estão interessados bem como a sua identidade, é um erro que coloca o vendedor numa posição de fraqueza.

A terceira conclusão, mais geral, é que o Banco de Portugal teve culpa naquilo que se passou no BPN. Já escrevi isto várias vezes neste blogue – por exemplo aqui. Se o Banco de Portugal tivesse tomado providências mais cedo, esta situação podia ter sido corrigida. Estamos agora, em 2010, a pagar o preço da falta de intervenção atempada do Banco de Portugal. Tudo isto deveria ter sido feito em 2007. Já lá vão 3 anos. O próprio Vítor Constâncio reconheceu que o Banco de Portugal foi ingénuo.

A minha conclusão geral quanto ao assunto da venda é a seguinte: se o processo tivesse sido conduzido de forma mais discreta e com uma visão adequada daquilo que é a realidade do mercado de fusões e aquisições no momento actual, o desfecho poderia ter sido diferente. Resta saber se a situação ainda pode ser invertida – tenho as minhas dúvidas.

Como Salazar reduziu o défice

Não tenho nenhuma admiração por Salazar mas creio que é interessante neste momento, entender como conseguiu sanear as finanças públicas ao chegar ao poder.

O contexto em 1928 era semelhante ao contexto actual, excepto que os mercados financeiros eram menos desenvolvidos. Em vez de recorrer ao mercado obrigacionista, Portugal solicitou um empréstimo ao Barings para se financiar. Tendo em conta que o défice estava descontrolado, esse empréstimo foi recusado. Deste ponto de vista, a situação actual é menos grave.

Duarte Pacheco encontrou-se com Salazar em Abril de 1928, em Coimbra. Convidou-o para a pasta das Finanças. O que se seguiu foi uma política de austeridade que teve uma vertente de aumento das receitas e uma vertente de redução da despesa.

No que toca à redução da despesa, Salazar (depois do tal discurso “Sei o que quero e para onde vou”) definiu como medidas essenciais:

  • A obrigatoriedade de cada Ministério não ultrapassar a verba que lhe fosse atribuída
  • A possibilidade do Ministério das Finanças vetar qualquer aumento de despesas
  • A uniformização dos critérios de realização de despesas. Nomeadamente, a uniformização daquilo que são despesas ordinárias e extraordinárias

O que me parece interessante é que, até agora, ainda não consegui entender como é que a execução orçamental ficou aquém do esperado. E ninguém fala sobre despesas ordinárias e extraordinárias. Será que houve uma regressão, ao cabo de mais de 80 anos?

A importância crescente dos fundos soberanos

Vários países emergentes produtores de petróleo têm excesso de liquidez e procuram investir esse capital no estrangeiro. Os fundos soberanos de Abu Dhabi, Angola e Timor, entre outros, têm vindo a aumentar os seus investimentos na Europa e em Portugal.

Foi recentemente anunciada a intenção, por parte do Fundo Soberano de Timor, de investir na EDP. A Sonangol é actualmente o maior accionista do BCP. A Santoro tem uma participação significativa no capital do Banco BPI.

Continuamos a saber pouco sobre os objectivos e critérios de investimento desses fundos. Quais são as implicações para as empresas? Foi este o assunto da minha entrevista de hoje à Económico TV.

O grande mistério da execução orçamental

Tenho algumas pistas para o Dr. Basílio Horta, que não entende o mistério da execução orçamental. Será que nos estamos a esquecer do “Bad Bank” do BPN? Veio nos jornais… Os 4 mil milhões de Euros ficaram no Estado.

Dito por outras palavras, os passivos que eram do BPN passaram para o balanço do Estado. Apesar da contabilidade nacional não seguir exactamente as mesmas regras do que a contabilidade de uma empresa, o princípio é semelhante.

4 mil milhões de Euros representam cerca de 2% do PIB. Não terá sido o único factor que levou à derrapagem orçamental, mas poderá ter contribuído.