Monthly Archives: November 2010

A propósito de "Uma Tragédia Portuguesa" de António Nogueira Leite

O livro recentemente publicado por António Nogueira Leite (com Paulo Ferreira), “Uma Tragédia Portuguesa”, faz um diagnóstico lúcido da situação do país e para além disso, indica várias soluções possíveis para as dificuldades que atravessamos. É um livro que vale a pena ler porque levanta questões importantes.

António Nogueira Leite menciona reformas possíveis em várias vertentes, não só o necessário emagrecimento do Estado, da reforma do Estado Social, como também mudanças que devem acontecer nas empresas e dentro das próprias famílias.

Sobre as reformas a efectuar nas empresas, António Nogueira Leite aponta para a importância de apostar nos bens e serviços transacionáveis. A propósito deste assunto, recordo-me da minha experiência em Londres onde trabalhei durante vários anos na banca de investimento. Nos meios da City, durante o período de 2001 a 2007, falava-se dos problemas da economia Alemã, por ser demasiado dependente dos produtos industriais. Sugeria-se que a economia alemã devia depender menos da indústria e passar para os serviços. Algo que hoje parece inacreditável era de facto defendido por vários analistas.

Eu sempre pensei que a indústria alemã era uma enorme vantagem para o país. Estudei durante um ano na Alemanha, numa cidade industrial mesmo ao lado da BASF, e fiquei bastante bastante impressionado com a força da cultura industrial Alemã.

Neste momento de crise, a Alemanha reafirma o seu estatuto de motor do crescimento da economia europeia graças em grande parte às suas empresas industriais exportadoras. A minha conclusão é simples: uma economia que aposta nos bens industriais, que são transaccionáveis, está sempre um passo à frente e pode enfrentar qualquer crise.

Portugal sempre dependeu excessivamente do sector do imobiliário e da construção. Finalmente alguém levanta a questão da excessiva dependência do país em relação a estes sectores. Será que há futuro no imobiliário e na construção em Portugal? Obviamente que sim, como em qualquer país. Mas as taxas de crescimento elevadas a que o sector se habituou provávelmente não voltam tão cedo. O modelo do sector terá que mudar.

A dependência do país relativamente ao imobiliário e à construção reflecte-se no mercado do crédito, como observa Nogueira Leite. A estatística apresentada para ilustrar este ponto é a seguinte: o sector imobiliário e da construção representava 18% do PIB em 2008 enquanto absorvia 72% da totalidade do crédito concedido pelo sector bancário. Ou seja, resta muito pouco para os outros sectores da economia, nomeadamente para os sectores que produzem bens e serviços transaccionáveis.

Isto tem várias consequências. Uma delas é que os bancos portugueses estão a sofrer duramente o marasmo que se vive no sector imobiliário e da construção. Outra consequência é que as empresas industriais em Portugal têm dificuldade no acesso ao crédito. O imobiliário, a construção, o próprio Estado, com a sua obsessão pelas obras públicas, acabam por canalizar grande parte do crédito disponível.

Sei por experiência própria que muitas empresas portuguesas não precisam sequer de crédito. Precisam sim de mecanismos de financiamento em acções, de capital de expansão.  Existe uma enorme lacuna em Portugal no que toca ao financiamento em capital. Os investidores privados portugueses sabem perfeitamente como financiar empresas em fase de expansão; no entanto, não querem arriscar neste momento do ciclo. Quanto aos investidores estrangeiros, não me parece que estejam muitos interessados no país neste momento, tendo em conta a iminência da entrada do FMI.

É necessário apostar nos bens transaccionáveis, no entanto há também os serviços – o livro refere sempre bens e serviços transaccionáveis. Penso no turismo, por exemplo, com Lisboa a assumir-se cada vez mais como um dos principaís destinos de congressos e incentivos mas onde ainda há muito a fazer. Também nos serviços financeiros: os bancos portugueses estão cada vez mais presentes em África.

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Apoiar o Banco Alimentar Contra a Fome

Juntamente com amigos, fui voluntário no Banco Alimentar Contra a Fome no Sábado passado. Estivemos 3 horas à saída do Continente no Colombo, ao final da tarde e hora de jantar.

Foi bastante produtivo – estive inserido numa equipa de 3 pessoas à saída de uma caixas e enchemos 2 paletes de supermercado (que são grandes) com leite, massa, arroz, conservas e outros bens de primeira necessidade.

A logística da operação estava impecável – parabéns à organização. Participar não custa nada, é uma questão de disponibilidade mental para se inscrever. Eu fui arrastado por amigos.

Estive a fazer, com a colaboração dos outros dois elementos da equipa, umas estatísticas “amadoras” acerca dos doadores, ou seja, das pessoas que saíram do supermercado e deixaram efectivamente um contributo para o Banco Alimentar na palete.

A primeira conclusão, como mostra o gráfico abaixo é que as mulheres fazem mais doações do que os homens – mas só marginalmente.

Tentámos fazer estatísticas quanto à distribuição etária das mulheres… Não perguntámos nada às pessoas, para não as incomodar. Com base unicamente no aspecto dos doadores,  estabelecemos 4 categorias: menos de 30 anos, dos 30 aos 40, dos 40 aos 60 e mais de 60.

A dificuldade é que a categoria dos 40 aos 60 inclui obviamente duas décadas, enquanto que as outras categorias incluem simplesmente um intervalo de 10 anos (partindo do princípio que as pessoas de menos de 20 anos fazem poucas compras). No entanto, é difícil entender se uma pessoa tem entre 40 e 50 ou entre 50 e 60, sem perguntar, pelo que foi a solução possível.

A categoria mais representada foi a das mulheres entre os 40 e 60; no entanto, tendo em conta que essa categoria engloba um intervalo de 20 anos, penso que a conclusão é que houve doações de mulheres de todas as idades.

Também tentámos fazer estatísticas de repartição etária dos homens doadores, o resultado é mais ou menos o mesmo, ou seja, uma distribuição uniforme por idades.

As estatísticas valem o que valem, já que reflectem apenas a experiência de um grupo de 3 pessoas num certo local, dependem da clientela do Continente e por aí adiante. A população é apenas de 73 doadores o que significa que, do ponto de vista ciêntífico, a sua validade é duvidosa. 

Há também o resultado do contacto com o público: notámos que muitas famílias com crianças participaram e pediram aos filhos para levarem as doações, para dar o exemplo. Houve gente que encheu um carrinho só com doações.

Interpelei muitas pessoas para doarem e só uma me disse abertamente que não. Várias pessoas justificaram a sua não participação: disseram que já fizeram doação ou que vão o vão fazer.

Tudo isto revela que os portugueses podem ser generosos. Uma iniciativa bem organizada e, como referi, na qual não custa nada participar.

Algumas notas sobre a melhor maneira de atrair um investidor de private equity

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Existe um mito segundo o qual é preciso ter contactos no sector de Private Equity para que os fundos se interessem por uma empresa. Isto não corresponde, regra geral, à realidade.
O processo de decisão de um fundo de capital de risco desenrola-se de um modo específico. Estes fundos, dependendo da sua dimensão e presença no mercado, costumam receber cinco a dez propostas de investimento por mês, analisadas por uma equipa de técnicos cuja função é unicamente essa. Com base nas conclusões da análise, os responsáveis do fundo tomam a decisão de avançar ou recusar a oportunidade. Tomando a decisão de avançar, é então constituída uma equipa para analisar a empresa em pormenor e, se continuar a existir interesse da parte do fundo, este entra no chamado due diligence e potencialmente abre negociações.
Para a PME ou empresa de maior dimensão interessada em apresentar o seu plano de negócios a um fundo de capital de risco para ponderar a alienação de parte ou da totalidade do seu capital, é importante que o primeiro contacto seja feito nas melhores condições. A apresentação da empresa da melhor maneira, tanto do ponto de vista da explicação dos mercados como da realidade financeira e perspectivas de desenvolvimento, são factores que contribuem para potenciar um possível interesse por parte do fundo.


Muitas vezes as empresas em Portugal não sabem exactamente como abordar um fundo de capital de risco para propor uma tomada de participação ou um investimento, devido ao facto de os fundos de capital de risco serem um tipo de investidor relativamente novo no nosso país.


Uma empresa que queira atrair um fundo de capital de risco deve ter em atenção, em primeiro lugar, quais são as características que um fundo deste tipo procura numa empresa. Em primeiro lugar, os fundos de capital de risco procuram empresas com um produto ou serviço único, com um factor de diferenciação. Para além disto, procura uma equipa de gestão com competências únicas, como por exemplo o conhecimento de uma tecnologia ou de um mercado.
Em segundo lugar, o fundo procura uma equipa de gestão de qualidade. Isto acontece porque na maior parte dos casos, o investidor em capital de risco não procura substituir a equipa de gestão, o que constituiria um risco para os fundos devido aos seus recursos limitados. O fundo está, por isso, a apostar na equipa de gestão já existente, advindo daí a procura de uma equipa de boa qualidade.
Finalmente, o investidor financeiro procura projecções que demonstrem que a empresa não só tem potencial de crescimento como também margens sólidas. É da responsabilidade da equipa de gestão provar que essas projecções podem de facto ser alcançadas.
Após a decisão de contactar um fundo de capital de risco, por exemplo, no contexto de um aumento de capital da empresa, surge um outro problema para as empresas: quantos fundos de capital de risco contactar? Tipicamente os accionistas da empresa ou o empresário contactam um único fundo e aguardam pela resposta. Nessa situação, o fundo poderá ter outros assuntos em mãos, levando a que a resposta tarde. Existem outros casos, nos quais os accionistas ou empresário contactam um número muito elevado de fundos, preparando uma descrição da empresa e enviando uma cópia standard a uma série de fundos. Neste caso, o fundo perceberá que não foi o único a ser contactado e pode não levar a empresa a sério. Qual é, então, o ponto de equilíbrio entre estas duas situações?
Idealmente, devem ser seleccionados os fundos que fazem sentido para a empresa, por exemplo, fundos que já investiram naquele sector de actividade. Existem também vantagens em abordar os fundos de forma pessoal, ou seja, através de um contacto pessoal, o que trará um grande valor acrescentado.
O passo seguinte será, então, perceber como é que o fundo de capital de risco irá fazer a avaliação da empresa para decidir se vale ou não a pena investir na mesma. Surgirá naturalmente a pergunta sobre qual o valor que o fundo vai atribuir à empresa, quanto é que o fundo irá pagar.
O fundo de capital de risco usa várias variáveis para avaliar uma empresa. De entre estas podemos destacar em primeiro lugar o investimento feito pelo empresário ou pelos seus accionistas no passado e qual será o investimento a realizar no futuro. Se estes não estiverem disponíveis para investir na empresa juntamente com o fundo, o negócio terá que ser muito rentável para atrair investimento. Significa que o empresário ou os accionistas não podem ou não querem arriscar, e os fundos estão à procura de compromisso da parte do empresário e da equipa de gestão.
O potencial de valorização da empresa é uma variável igualmente importante. Os fundos de investimento pensam, regra geral, em termos do retorno sobre o capital investido ou TIR. Quanto é que a empresa pode valer daqui a x anos ou quais as probabilidades de a empresa chegar aos seus objectivos. 


O risco é outra variável a ter em consideração, por exemplo quais são as probabilidades que a empresa tenha dificuldades, ou quanto capital seria perdido se a empresa entrasse em liquidação. Além disso, devem ser também considerados os fundos adicionais, ou seja, se após o investimento inicial a empresa precisar de mais capital para se desenvolver, isso terá um efeito negativo sobre a avaliação.
Finalmente, o último parâmetro a ser avaliado é a saída. Se houver liquidez que permita a saída, por exemplo numa saída à bolsa ou venda a uma empresa do sector, isso será um factor positivo na avaliação, uma vez que os fundos de capital de risco são tipicamente accionistas temporários e têm que planear a sua saída logo ao início do investimento.
A última questão que uma empresa se pode colocar será, inevitavelmente, até que ponto o fundo de capital de risco se irá envolver na vida da empresa. O envolvimento do fundo de capital de risco depende de vários factores. O mais importante é o montante investido. Se o fundo tiver investido um grande montante, ou se a empresa representar um grande investimento para o fundo, é natural que os gestores do fundo dediquem mais tempo à sua gestão do que se o investimento for menor. A necessidade de apoio também é tida em consideração, isto é, se a equipa de gestão da empresa estiver completa e conseguir lidar com os vários aspectos da vida da empresa, o investidor vai deixar a equipa fazer o seu trabalho sem grandes interferências. Se a empresa não for capaz de lidar com todos os aspectos ou houver uma deficiência de gestão, o fundo vai envolver-se mais. Finalmente, se a empresa entrar em dificuldades financeiras, o investidor irá naturalmente intervir mais e tomar uma série de medidas para melhorar a situação.
O maior ou menor envolvimento do fundo de capital de risco na vida de uma empresa dependerá, portanto, da situação particular de cada empresa.