@font-face { font-family: “Calibri”;}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 10pt; line-height: 115%; font-size: 11pt; font-family: “Times New Roman”; }div.Section1 { page: Section1; }
Existe um mito segundo o qual é preciso ter contactos no sector de Private Equity para que os fundos se interessem por uma empresa. Isto não corresponde, regra geral, à realidade.
O processo de decisão de um fundo de capital de risco desenrola-se de um modo específico. Estes fundos, dependendo da sua dimensão e presença no mercado, costumam receber cinco a dez propostas de investimento por mês, analisadas por uma equipa de técnicos cuja função é unicamente essa. Com base nas conclusões da análise, os responsáveis do fundo tomam a decisão de avançar ou recusar a oportunidade. Tomando a decisão de avançar, é então constituída uma equipa para analisar a empresa em pormenor e, se continuar a existir interesse da parte do fundo, este entra no chamado due diligence e potencialmente abre negociações.
Para a PME ou empresa de maior dimensão interessada em apresentar o seu plano de negócios a um fundo de capital de risco para ponderar a alienação de parte ou da totalidade do seu capital, é importante que o primeiro contacto seja feito nas melhores condições. A apresentação da empresa da melhor maneira, tanto do ponto de vista da explicação dos mercados como da realidade financeira e perspectivas de desenvolvimento, são factores que contribuem para potenciar um possível interesse por parte do fundo.
Muitas vezes as empresas em Portugal não sabem exactamente como abordar um fundo de capital de risco para propor uma tomada de participação ou um investimento, devido ao facto de os fundos de capital de risco serem um tipo de investidor relativamente novo no nosso país.
Uma empresa que queira atrair um fundo de capital de risco deve ter em atenção, em primeiro lugar, quais são as características que um fundo deste tipo procura numa empresa. Em primeiro lugar, os fundos de capital de risco procuram empresas com um produto ou serviço único, com um factor de diferenciação. Para além disto, procura uma equipa de gestão com competências únicas, como por exemplo o conhecimento de uma tecnologia ou de um mercado.
Em segundo lugar, o fundo procura uma equipa de gestão de qualidade. Isto acontece porque na maior parte dos casos, o investidor em capital de risco não procura substituir a equipa de gestão, o que constituiria um risco para os fundos devido aos seus recursos limitados. O fundo está, por isso, a apostar na equipa de gestão já existente, advindo daí a procura de uma equipa de boa qualidade.
Finalmente, o investidor financeiro procura projecções que demonstrem que a empresa não só tem potencial de crescimento como também margens sólidas. É da responsabilidade da equipa de gestão provar que essas projecções podem de facto ser alcançadas.
Após a decisão de contactar um fundo de capital de risco, por exemplo, no contexto de um aumento de capital da empresa, surge um outro problema para as empresas: quantos fundos de capital de risco contactar? Tipicamente os accionistas da empresa ou o empresário contactam um único fundo e aguardam pela resposta. Nessa situação, o fundo poderá ter outros assuntos em mãos, levando a que a resposta tarde. Existem outros casos, nos quais os accionistas ou empresário contactam um número muito elevado de fundos, preparando uma descrição da empresa e enviando uma cópia standard a uma série de fundos. Neste caso, o fundo perceberá que não foi o único a ser contactado e pode não levar a empresa a sério. Qual é, então, o ponto de equilíbrio entre estas duas situações?
Idealmente, devem ser seleccionados os fundos que fazem sentido para a empresa, por exemplo, fundos que já investiram naquele sector de actividade. Existem também vantagens em abordar os fundos de forma pessoal, ou seja, através de um contacto pessoal, o que trará um grande valor acrescentado.
O passo seguinte será, então, perceber como é que o fundo de capital de risco irá fazer a avaliação da empresa para decidir se vale ou não a pena investir na mesma. Surgirá naturalmente a pergunta sobre qual o valor que o fundo vai atribuir à empresa, quanto é que o fundo irá pagar.
O fundo de capital de risco usa várias variáveis para avaliar uma empresa. De entre estas podemos destacar em primeiro lugar o investimento feito pelo empresário ou pelos seus accionistas no passado e qual será o investimento a realizar no futuro. Se estes não estiverem disponíveis para investir na empresa juntamente com o fundo, o negócio terá que ser muito rentável para atrair investimento. Significa que o empresário ou os accionistas não podem ou não querem arriscar, e os fundos estão à procura de compromisso da parte do empresário e da equipa de gestão.
O potencial de valorização da empresa é uma variável igualmente importante. Os fundos de investimento pensam, regra geral, em termos do retorno sobre o capital investido ou TIR. Quanto é que a empresa pode valer daqui a x anos ou quais as probabilidades de a empresa chegar aos seus objectivos.
O risco é outra variável a ter em consideração, por exemplo quais são as probabilidades que a empresa tenha dificuldades, ou quanto capital seria perdido se a empresa entrasse em liquidação. Além disso, devem ser também considerados os fundos adicionais, ou seja, se após o investimento inicial a empresa precisar de mais capital para se desenvolver, isso terá um efeito negativo sobre a avaliação.
Finalmente, o último parâmetro a ser avaliado é a saída. Se houver liquidez que permita a saída, por exemplo numa saída à bolsa ou venda a uma empresa do sector, isso será um factor positivo na avaliação, uma vez que os fundos de capital de risco são tipicamente accionistas temporários e têm que planear a sua saída logo ao início do investimento.
A última questão que uma empresa se pode colocar será, inevitavelmente, até que ponto o fundo de capital de risco se irá envolver na vida da empresa. O envolvimento do fundo de capital de risco depende de vários factores. O mais importante é o montante investido. Se o fundo tiver investido um grande montante, ou se a empresa representar um grande investimento para o fundo, é natural que os gestores do fundo dediquem mais tempo à sua gestão do que se o investimento for menor. A necessidade de apoio também é tida em consideração, isto é, se a equipa de gestão da empresa estiver completa e conseguir lidar com os vários aspectos da vida da empresa, o investidor vai deixar a equipa fazer o seu trabalho sem grandes interferências. Se a empresa não for capaz de lidar com todos os aspectos ou houver uma deficiência de gestão, o fundo vai envolver-se mais. Finalmente, se a empresa entrar em dificuldades financeiras, o investidor irá naturalmente intervir mais e tomar uma série de medidas para melhorar a situação.
O maior ou menor envolvimento do fundo de capital de risco na vida de uma empresa dependerá, portanto, da situação particular de cada empresa.